Mas não é só o "portanto" que deve ser visto como uma conclusão de toda a discussão anterior, também deve ser considerado como tendo uma estreita relação com o que o imediatamente precede. Na segunda metade de Romanos 7 o apóstolo havia descrito o conflito doloroso e incessante que é travado entre as naturezas antagônicas naquele que nasceu de novo, ilustrando isso por uma referência à sua própria experiência pessoal como um cristão. Tendo se retratado com um mestre da pena – sendo ele mesmo o modelo para o quadro – das lutas espirituais do filho de Deus, o apóstolo agora passa a dirigir a atenção para a consolação divina em uma condição tão angustiante e humilhante. A transição do tom desanimado do sétimo capítulo à linguagem triunfante do oitavo aparece surpreendente e abrupta; ainda é bastante lógico e natural. Se é verdade que para os santos de Deus pertence o conflito do pecado e da morte, sob cujo efeito eles choram, também é verdade que sua libertação da maldição e da condenação correspondente é uma vitória no qual eles se alegram. Um contraste muito marcante é, portanto, indicado.
"... lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados" (Isaías 38:17). "E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades" (Hebreus 10:17).
Ao tratar do conflito entre as duas naturezas do crente, o apóstolo tinha, no capítulo anterior, falado de si mesmo em sua própria pessoa, a fim de mostrar que as maiores realizações na graça não isentam da guerra interna que ele descreve. Mas aqui, no versículo 8:1, o apóstolo muda o número. Ele não diz, nenhuma condenação há para mim, mas "para os que estão em Cristo Jesus". Esta foi a maior benevolência do Espírito Santo. O apóstolo tinha falado aqui no singular, devemos raciocinar que tal abençoada isenção estava bem ajustada a este honrado servo de Deus que apreciava tais privilégios maravilhosos; mas pode não se aplicar a nós. O Espírito de Deus, portanto, moveu o apóstolo a empregar o plural aqui, para mostrar que "nenhuma condenação" é verdadeiro para todos em Cristo Jesus. "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Estar em Cristo Jesus é ser perfeitamente identificado com Ele na avaliação judicial e nos procedimentos de Deus: e é também ser um com Ele como vitalmente estando unidos pela fé. Imunidade da condenação não depende de qualquer sabedoria sobre a nossa "caminhada", mas unicamente em nosso ser "em Cristo".
Traduzido por Edimilson de Deus Teixeira
Fonte: Comfort for Christians de A.W. Pink (leia aqui a biografia do autor)