quarta-feira, 16 de julho de 2014
Quem aqui não deseja ser capaz de compreender da maneira mais exata possível o texto bíblico?
Quem não quer possuir as melhores bases
para uma construção teológica bem fundamentada? Quem não quer saber
discernir o joio do trigo entre tantas coisas que se dizem sobre a
Escritura Sagrada? Para tudo isso, é importante, e mesmo indispensável,
conhecer exegese bíblica.
I. Antes de mais nada, é preciso saber: o que exegese bíblica é e o que não é?
Exegese
não é tradução – A despeito de o hebraico e o grego bíblicos não serem
mais línguas faladas em nossos dias, judeus e gregos, ao menos em tese,
quando tratam respectivamente do AT e do NT, não precisam de tradução,
embora precisem de exegese, como todos os estudiosos da Bíblia. Tradução
é necessária, como passo prévio à exegese, para não falantes da
língua-fonte e/ou para a comunicação do exegeta com não falantes dessa
língua; tradução não é, em si, exegese.
Exegese
é diferente de hermenêutica – Esta trata dos princípios e normas da
interpretação, aquela da prática da interpretação, dos passos concretos
dados no trabalho interpretativo. Pode-se dizer que exegese está para
hermenêutica assim como prática está para teoria. Exegese é prática
hermenêutica (interpretativa), pela aplicação dos princípios e normas da
ciência hermenêutica (teórica).
Exegese
se distingue de teologia – Esta se faz a partir de conceitos, não
necessariamente a partir da análise de textos, embora o devesse fazer,
no momento atual do labor teológico. A boa teologia é aquela feita a
partir de conceitos extraídos dos textos bíblicos. E aqui é bom dizer
que exegese, embora distinta de teologia, não se dissocia desta; pois
exegese é necessária, mas não suficiente. Em termos ideais, o exegeta
deveria ser também teólogo, para que seu trabalho de interpretação
esteja completo.
Entendemos
exegese como ciência, que tem objeto e método próprios. Seu objeto são
os textos, em nosso caso, os textos bíblicos. Seu método por excelência é
o histórico-crítico, do qual falaremos adiante.
Vale
lembrar de passagem que exegese não é ciência apenas bíblica. Pois todo
texto precisa de interpretação: o jurídico, o literário, o filosófico
etc.
Exegese
é também arte. Aqui entram talentos, sensibilidades, insights pessoais e
próprios do exegeta, todos relevantes no processo interpretativo.
Embora
a observação do trabalho de outros seja importante no aprendizado da
exegese, esta só se aprende mesmo fazendo, ou seja, com a experiência,
com a colocação em prática da ciência e da arte exegéticas. É como tudo
na vida.
Exegese
é análise detalhada de um texto sob vários ângulos (o textual, o
literário, o dos motivos/temas, o do processo de composição), a fim de
extrair dele sua mensagem. Importante é a distinção entre exegese
(condução para fora) e eisegese (condução para dentro). Exegese é aquilo
que, como teólogos e pregadores sérios, devemos praticar, respeitando o
texto, seu autor e sua intenção, seu contexto e sua forma, seu conteúdo
e seu sentido.
A propósito, vale ressaltar que cada texto bíblico tem um sentido único (Assim também ensina a Confissão de Fé de Westminster,
cap. I, IX: o sentido de qualquer texto da Escritura não é múltiplo,
mas único.) Seu sentido é aquele intencionado pelo autor, ao qual todos
os intérpretes devem procurar chegar. Para isso, é preciso respeitar a
voz do texto: sua perspectiva, sua mensagem, suas demandas. O texto não
pode ser manipulado ao nosso bel prazer, para dizer o que nós queremos que ele diga, mas escutado naquilo que eletem
a nos dizer, mesmo e principalmente contra nós. É mister deixar que o
texto fale, e ouvi-lo (também no sentido bíblico de obediência).
Exegese
precisa levar em consideração a enorme distância temporal/histórica (em
alguns casos, também espacial/geográfica) e, sobretudo, cultural que
existe entre os textos bíblicos e nós, pessoas de outra época e cultura.
Embora, como cristãos, tenhamos a convicção de que a mensagem da Bíblia
se destina a todas as pessoas, de todos os tempos e lugares e culturas,
precisamos ter consciência clara de que não somos seus primeiros
destinatários, lembrando sempre que a Bíblia não foi escrita em nossa
língua e em nossa cultura, o que implica grande atenção e esforço para
superar a distância que medeia entre o texto bíblico e nós.
Exegese
precisa contar com o auxílio de várias ciências humanas (história,
geografia, arqueologia, paleografia, história das religiões comparadas,
entre outras). Isto é assim porque a distância que há entre a Bíblia e
nós não pode ser devidamente transposta pelo mero recurso a uma
investigação restrita ao âmbito literário interno à Bíblia. Não basta
ler e buscar interpretar a Bíblia em si mesma, isolada do contexto
histórico e cultural em que foi produzida. Não se deve fazer exegese sem
se entrar em diálogo com outras ciências humanas, que nos ajudam a
conhecer e compreender o mundo da Bíblia.
Exegese
busca interpretação objetiva dos textos, a mais objetiva possível. O
exegeta sabe que a objetividade absoluta é impossível, constituindo-se
uma ilusão. Há condicionamentos que limitam a prática exegética, como de
resto qualquer outra tarefa investigativa humana. Há pré-compreensões
que inevitavelmente são trazidas para a atividade de interpretação de
qualquer texto; no caso da interpretação de textos bíblicos, estas
pré-compreensões incluem também aquelas que fazem parte do cabedal
doutrinário e teológico da comunidade de fé a que pertence o exegeta.
Mas isso não significa que a objetividade não possa ou não deva ser
buscada. Ela permanece como ideal a guiar o trabalho do exegeta, que
deve realizar seu mister com plena consciência de seus condicionamentos e
de suas pré-compreensões, para que eles o influenciem o mínimo
possível.
A
exegese bíblica possui uma longa e complexa história, da qual já o AT
dá testemunho. Como exemplos, podem-se citar a Obra Cronista de
História, que é uma releitura da Obra Deuteronomista de História; e a
reinterpretação dada por Daniel aos setenta anos de cativeiro do anúncio
de Jeremias, transformando-os em setenta semanas de anos (cp. Jr
25.11s; 29.10 a Dn
9.2 e 24). Ela é vista também no NT, em Paulo, por exemplo, que
reinterpreta elementos e figuras da história antiga de Israel (cf. 1 Co
10.1-4; Gl 4.21-31), além de ser também observada no conjunto dos
autores do NT, que, grosso modo, releem o todo do AT à luz do evento-Cristo.
Hoje,
à luz das exigências do tempo e das conquistas da ciência bíblica, já
não é mais possível fazer exegese como a faziam os antigos. Mas, como os
antigos, continuamos precisando interpretar os textos bíblicos. Na
realização dessa tarefa, não devemos pensar que a exegese científica
tenha passado a ser o único nível de leitura admissível de um texto,
superando e pondo de lado todos os demais. Há outras leituras, cada uma
delas com seu valor: por exemplo, as devocionais e as tradicionais.
Longe de nós desprezar as leituras dos crentes, alimento indispensável
para a fé e a comunhão com Deus, ou as dos pais e dos reformadores,
plenas de intuições espirituais profundas, embora seus métodos não sejam
os mesmos que os nossos, e, alguns casos, nem aceitáveis nos tempos
atuais. Mas, quando fazemos exegese hoje, devemos ter consciência de nos
inserir numa longa corrente de interpretação bíblica, à qual somos
devedores e da qual muito podemos aprender.
Importa,
antes e acima de tudo, ter em vista que exegese está a serviço da fé,
tanto no nível da espiritualidade (fé vivida) quanto no da teologia (fé
pensada). Não é um fim em si mesmo, mas uma tarefa auxiliar, subsidiária
ao labor teológico da comunidade e à melhor compreensão e colocação em
prática das exigências da vida religiosa.
II.
Com que meios se faz exegese científica? Primordialmente, com uso do
assim chamado método histórico-crítico. (Que, na realidade, não é um método,
mas um conjunto de métodos, do qual fazem parte, por exemplo, a crítica
textual, a análise literária, a crítica das fontes, a crítica das
formas, a crítica da tradição, a crítica da redação.)
O
MHC é o método científico por excelência. Por quê? O MHC apresenta
diversas vantagens, a despeito de seus limites e riscos. Entre os
limites e riscos do MHC, podemos enumerar várias coisas: o academicismo,
a arrogância diante de outras leituras, o reducionismo historicista, a
excessiva decomposição do texto bíblico em fragmentos cada vez menores
(dificultando cada vez mais a percepção de sua unidade), a
despreocupação para com a aplicabilidade prática das pesquisas
(descurando do momento de síntese, indispensável após o de análise), a
ilusão de que tudo seja racional ou racionalizável, a absolutização de
seus resultados.
Não
obstante todos esses limites e riscos, o MHC ainda vale a pena. Ele
permanece sendo um referencial metodológico útil e mesmo indispensável,
ao qual muito se deve na história da exegese e do qual ainda muito se
pode receber.
Graças
a MHC, sabemos bem melhor hoje do que no passado a importância e o
valor da identificação dos gêneros literários dos textos bíblicos, que
não podem ser todos lidos com os mesmos óculos, pois são distintos em
sua natureza. A variedade de gêneros literários empregados na Bíblia é
enorme, e precisa ser levada em conta na análise de cada texto em particular. Não se
pode ler, da mesma maneira, um texto legal, uma narrativa, um oráculo
profético, uma oração, um texto apocalíptico. Cada uma dessas formas
literárias tem características próprias, que devem ser distinguidas e
consideradas. Assim também é importante discernir as fontes dos textos
bíblicos, as tradições que a eles subjazem, o longo e complexo processo
de formação e composição das unidades textuais, dos livros, dos corpora literários e da Bíblia como um todo.
O MHC nos ajuda a colocar em perspectiva as interpretações, nossas e de outros.
O
MHC não nos permite instrumentalizar o texto a nosso gosto e de acordo
com nossos interesses, lendo-o de maneira seletiva e arbitrária, sem
consideração para com seu contexto (literário, histórico, social,
religioso etc.) e propósito originais.
O
MHC nos possibilita ver melhor a diversidade de teologias que há na
Bíblia, sem que isso necessariamente implique prejuízo para sua unidade.
No entanto, ele nos alerta para o fato de que não se deve buscar uma
harmonização a qualquer custo dessas diferenças pela eliminação de toda
tensão e conflito entre as variadas perspectivas teológicas recolhidas
nas Escrituras Sagradas.
O
MHC leva a sério a humanidade dos autores bíblicos em sua condição de
testemunhas da revelação divina, e o fato de que essa revelação foi
percebida e refletida dentro de situações históricas bem concretas e
definidas. Afinal, o texto bíblico é Palavra de Deus em palavra humana,
escrito e reescrito em meio às vicissitudes da história. A Bíblia é mais
que um mero documento histórico (reconhecida que é como Palavra de Deus
pelos que creem no Deus da Bíblia, além de como patrimônio cultural da
humanidade e como pilar da civilização ocidental); mas é também um
documento histórico. De fato, a Bíblia é uma obra literária de grande
envergadura; um verdadeiro clássico da literatura universal. O texto
bíblico não caiu do céu. Não nasceu pronto. Tem atrás de si uma longa e
complexa história de formação e composição. Por isso, há coisas na
Bíblia que só se explicam diacronicamente, como, por exemplo, as
diferenças entre as duas narrativas da criação (Gn 1-2) e entre versões
das mesmas leis no Pentateuco (Decálogo, lei do altar, lei do escravo
etc.), provenientes que são de épocas e concepções distintas. Portanto, a
análise diacrônica feita pelo MHC é importante e necessária, sem que
isso implique qualquer desprezo pela análise sincrônica, que considera o
texto em sua forma final, canônica, autoritativa para a vida da Igreja.
De
mais a mais, além de uma longa e complexa história de formação e
composição, o texto bíblico tem também uma longa e complexa história de
transmissão: cópias, versões, citações, edições, que envolvem inúmeros
problemas (mudanças intencionais e não-intencionais, adaptações
culturais e releituras, imprecisões, decisões editoriais). Daí também a
importância e a necessidade da atitude crítica diante do texto.
O
método da exegese bíblica é histórico (e deve sê-lo) porque lida com
documentos históricos milenares; porque reconhece que esses documentos
se formaram ao longo de séculos, conhecendo diversos estágios em seu
processo composicional até chegar ao estado em que hoje os encontramos; e
porque se interessa pelas condições históricas que geraram esses
textos.
O
método é também crítico (e deve sê-lo) no sentido de que reconhece a
necessidade de se fazer juízos sobre o material estudado, sobre suas
interpretações ao longo da história (estudadas pela chamada história dos
efeitos ou da recepção do texto), e sobre suas próprias conclusões,
sempre provisórias e relativas, ainda que com graus de probabilidade
distintos, possibilitando maior ou menor certeza com relação ao sentido
dos textos analisados. Vale lembrar que um método não pode ter a
pretensão de ser histórico sem ser crítico, pois não se faz trabalho
histórico sem atitude e espírito críticos.
A exegese histórico-crítica, em uma palavra, respeita o texto e seu autor, entendendo que o sentido original e literal é o sentido
do texto, e busca descobri-lo com o melhor instrumental científico
disponível. O MHC não é o único método que há, mas é, no mínimo, um
ponto de partida e uma base que não devem ser rejeitados a priori, e, no máximo, o melhor método científico que já foi criado para a interpretação de textos.
A propósito, duas observações laterais:
Primeira:
Ciência se faz com hipóteses e argumentos, não com apelo a instâncias
de autoridade, quaisquer que elas sejam. Uma coisa deve ser considerada
verdadeira ou válida em termos científicos não simplesmente porque
alguém disse que seja assim, mas porque esse alguém fundamentou adequada
e convincentemente suas afirmações. O cientista busca a verdade e luta
por ela com a força de argumentos, não invocando a palavra de
autoridades, muito menos servindo-se da força bruta e da violência –
coisa dos autoritários e dos totalitários, que não têm lugar legítimo no
mundo da ciência e do amor e da busca pela verdade. (Quisera Deus não
tivessem lugar em mundo nenhum!)
Segunda:
Leitura literal distingue-se de leitura literalista. A leitura literal
reconhece, respeita e valoriza os diversos gêneros literários dos textos
bíblicos. A leitura literalista toma ingenuamente tudo ao pé da letra,
pelo seu valor de face. Uma interpretação bíblica que se possa
verdadeiramente chamar de literal muitas vezes será figurada ou
simbólica. Pois a Bíblia é um texto religioso. E a linguagem religiosa é
figurada ou simbólica por excelência, visto tratar do inefável. Só se
pode falar de Deus e das coisas de Deus de maneira aproximativa.
III.
De que modo se faz exegese? Como se busca a verdade do texto? Ou, em
outras palavras, qual a atitude fundamental do exegeta? Esta não pode
ser outra senão a de buscar a verdade do texto incansavelmente, e com
humildade, para poder praticá-la e transmiti-la a outros.
A
busca da verdade é incansável – pois a verdade nunca é totalmente
alcançada por ninguém, e dela sempre se pode conhecer algo mais. De
fato, o exegeta é movido por um desejo constante de ir além do já
alcançado, de chegar até onde lhe seja possível. Como homem ou mulher de
ciência, sabe que a busca da verdade é processo contínuo, que nunca se
encerra. E que há sempre algo a aprender, por mais que se saiba.
A
busca da verdade do texto é empreendida com humildade. A humildade do
intérprete está, entre outras coisas, em que ele reconhece continuamente
que pode não estar lendo com exatidão ou estar errado mesmo em sua
leitura, e, portanto, está pronto a ser esclarecido ou corrigido. Sabe
também que a nossa visão humana, do que quer que seja, inclusive da
verdade, é limitada, parcial, é sempre vista de um ponto. Precisamos da
ajuda de outros, e estar dispostos e sempre abertos a mudar nossa
compreensão.
A
busca da verdade é voltada para a prática na vida pessoal do intérprete
e a comunicação e a partilha do encontrado com outros no serviço da
comunidade de fé. Do contrário, não tem sentido.
Mas não só isso caracteriza a atitude do exegeta.
É
preciso reconhecer também a importância do acesso ao trabalho de
outros. O exegeta não está sozinho em sua busca da verdade. Além do
mais, não se cria do nada, nem é preciso redescobrir a pólvora ou
reinventar a roda, perdendo tempo em busca do que já foi encontrado. Daí
o valor das traduções antigas e modernas, do aparato crítico das
edições científicas do texto bíblico, das concordâncias, dos
dicionários, dos comentários, das obras de história e de teologia
bíblica.
Importa
igualmente assumir sempre uma postura crítica: diante do texto em si;
diante de nossa própria tradição interpretativa; e, sobretudo, diante de
nós mesmos (que trazemos sempre para nossas leituras nossas
pré-concepções e pré-compreensões). Nada deve ficar sem questionamento.
Nenhuma dúvida deve deixar de ser expressa, nenhuma pergunta deve deixar
de ser feita, nenhum problema deve deixar de ser levantado – desde que
pertinentes ao texto em exame. Não há o que temer com relação ao texto
ou à verdade de que é portador – pois o texto e sua verdade são capazes
de suportar qualquer escrutínio sério ao qual sejam submetidos.
E ainda: Que se cultive o segredo do exegeta: a prontidão para ouvir (não para falar, como em geral preferimos). Ele implica:
Abertura
ao texto – Ir a ele desarmado, e sem levar ideias prévias a ele. Dizer a
si mesmo: “Eu não sei, preciso e quero aprender” é a melhor atitude
inicial.
Atenção
– Ir ao texto com foco e concentração, sem distrações. Pontos
interessantes que surjam, mas que não tenham a ver com a análise
específica que se está empreendendo, devem ser anotados e guardados para
outro momento.
Paciência
– O trabalho exegético é longo, complexo, e lento. Não adianta querer
chegar logo a resultados concretos e definitivos; não adianta forçar as
conclusões a vir
.
Calma
– O exegeta tem que saber esperar. É preciso meditação no que se lê,
investir tempo na reflexão. Deixar as ideias repousarem, fermentarem,
como massa de pão e de bolo, até que se façam claras. Imprescindível ter
cuidado com a pressa, compreensível mas injustificável, em aplicar e
fazer falar o texto às urgentes demandas do hoje. Primeiro, é mister
procurar ouvir o texto em seu lá e então, com toda a calma; depois, em
nosso aqui e agora.
Perseverança
– Muitas vezes o entendimento de um texto é mais difícil do que à
primeira vista parecer ser; o texto não se entrega com facilidade. Cabe
então não desistir, nem desanimar. A tarefa não é simples, mas é
altamente recompensadora.
Conclusão
Exegese
é interpretação, busca de sentido de um texto. O sentido é único, e é
alcançado pela leitura literal do texto. Outras leituras, para que
tenham validade, não podem contradizer o sentido literal do texto.
Exegese
demanda conhecer a intenção do autor, os gêneros literários empregados
por ele, o contexto histórico no qual e para o qual escreveu, e todas as
etapas do desenvolvimento do texto que se possam discernir, se queremos
descobrir a verdade do texto. Esta é estabelecida pelo texto, não pelo
leitor. É preciso deixar que o texto fale, mesmo contra o leitor. Cabe
ao leitor buscar ouvir o que o texto tem a dizer, não o que ele leitor
quer ouvir.
Exegese
tem como finalidade colaborar na busca da inteligência da fé. Fides
quaerens intellectum, a fé está em busca da compreensão, segundo o moto
de Santo Anselmo. E nada pode nos auxiliar mais nessa empresa do que uma
exegese bem realizada.
Exegese não é fim em mesmo, mas meio, instrumento a serviço da construção teológica. De fato, exegese é a base da teologia.
Exegese,
como toda e qualquer ciência, se faz com método científico, o que
significa dizer, histórico-crítico. O método científico tem limites. O
próprio saber científico não é o único legítimo. Contudo, embora não
suficiente, a exegese científica é necessária e mesmo imprescindível
para que possamos conhecer e viver a nossa fé, e dar razão da nossa
esperança no séc. XXI da melhor maneira que pudermos, como buscaram
também fazer, em seu tempo e com os melhores instrumentos de que
dispunham, aqueles que vieram antes de nós, e em cujos passos seguimos.
Palestra
proferida por Paulo Severino da Silva Filho, ministro da Igreja
Presbiteriana do Brasil e doutor em Teologia Bíblica pela PUC-Rio, em
seis de fevereiro de 2012, na FAECAD, como aula inaugural do ano letivo. Fonte: Blog da FAECAD
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