Jó aqui se corrige. No início do capítulo, encontramo-lo dizendo: "Ainda hoje a minha queixa está em amargura; a minha mão pesa sobre meu gemido. Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal" (versículos 1 e 2). O pobre Jó sentiu que seu fardo era insuportável. Mas ele se recupera. Ele verifica seu acesso de raiva e revê sua decisão impetuosa. Quantas vezes nós temos que nos corrigir! Somente um já caminhou sobre a Terra que nunca precisou fazê-lo.
Jó aqui conforta a si mesmo. Ele não conseguia entender os mistérios da Providência, mas Deus sabia o caminho que ele tomou. Jó tinha diligentemente buscado a presença serena de Deus, mas, por um tempo, em vão. "Eis que se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo. Se opera à esquerda, não o vejo; se se encobre à direita, não o diviso” (versículos 8 e 9). Mas ele consolou-se com esta bendita verdade, embora eu não posso ver a Deus, o que é mil vezes melhor, Ele pode me ver - "Ele me conhece". Aquele que está acima não é nem irresponsável, nem indiferente a nossa sorte. Se Ele percebe a queda de um passarinho, se Ele conta os cabelos da nossa cabeça, é claro que "Ele sabe" o caminho que eu tomo. Jó aqui enuncia uma visão nobre da vida. Como esplendidamente ele estava otimista! Ele não permitiu que suas aflições o transformassem em um cético. Ele não permitiu que os problemas e angústias que estava passando o dominassem. Ele olhou para o lado luminoso das nuvens escuras do lado de Deus, escondido do senso e da razão. Ele tomou uma visão maior da vida. Ele olhou para além das imediatas "provas de fogo" e disse que o resultado seria ouro refinado. "Porém ele sabe o meu caminho; provando-me ele, sairei como o ouro". Três grandes verdades são expressas aqui: vamos considerar brevemente cada uma separadamente.
1. O conhecimento divino de minha vida. "Porém ele sabe o meu caminho". A onisciência de Deus é um dos mais maravilhosos atributos da divindade. "Porque os seus olhos estão sobre os caminhos do homem, e ele vê todos os seus passos" (Jó 34:21). "Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons (Provérbios 15:3). Spurgeon disse: "Um dos maiores testes da religião experimental é: qual é a minha relação com a onisciência de Deus?"Qual é sua relação com ela, caro leitor? Como isso afeta você? Ela angustia ou o conforta? Você se apequena diante do pensamento de Deus em saber tudo sobre o seu caminho? Talvez, um caminho mentiroso, egoísta e hipócrita? Para o pecador este é um pensamento terrível. Se ele nega ou não, ele procura esquecer. Mas para o cristão, é o verdadeiro conforto. Como é confortante lembrar que meu Pai sabe tudo sobre minhas provações, minhas dificuldades, minhas tristezas, meus esforços para glorificá-Lo. Preciosa verdade para aqueles que estão em Cristo, angustiantes pensamentos para todos os que estão fora de fora, que o caminho que eu tomo é totalmente conhecido e observado por Deus. "... ele sabe o meu caminho". Homens não sabem o caminho que Jó tomou. Ele foi seriamente mal compreendido, e para alguém com um temperamento sensível ser mal compreendido, é uma dura provação. Seus amigos achavam que ele era um hipócrita. Eles acreditavam que ele era um grande pecador e estava sendo punido por Deus. Jó sabia que ele era um santo indigno, mas não um hipócrita. Ele apelou contra sua sentença de censura "Porém ele sabe o meu caminho; provando-me ele, sairei como o ouro".
Aqui é a instrução para nós quando circunstanciados. Seus irmãos na fé podem não o entender, e interpretar mal o tratamento de Deus com você, mas console-se com o abençoado fato de que aquele que é onisciente sabe. "... ele sabe o meu caminho". No sentido mais amplo do termo Jó não sabia o caminho que ele tomava, nem qualquer um de nós. A vida é profundamente misteriosa, e o passar dos anos não oferecem nenhuma solução. Nem o filosofar nos ajuda. A vontade humana é um estranho enigma. A consciência testemunha que somos mais do que autômatos. O poder de escolha é exercido por nós em cada movimento que fazemos. E, no entanto é evidente que a nossa liberdade não é absoluta. Há forças que são exercem sobre nós, tanto boas quanto más, que estão além do nosso poder de resistir. Tanto a hereditariedade quanto o ambiente exercem poderosas influências sobre nós. Nosso ambiente e as circunstâncias são fatores que não podem ser ignorados. E como a providência "forma nossos destinos"? Ah, quão pouco sabemos o caminho que "tomamos". Disse o profeta: "Eu sei, ó SENHOR, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir os seus passos" (Jeremias 10:23). Aqui entramos no domínio do mistério; e é inútil negá-lo. Melhor conhecer com o sábio: "Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; como, pois, entenderá o homem o seu caminho?" (Prov. 20:24) No sentido mais estrito do termo Jó sabia o caminho que ele tomava. O "caminho" que ele nos diz nos próximos dois versos. "Nas suas pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho, e não me desviei dele. Do preceito de seus lábios nunca me apartei, e as palavras da sua boca guardei mais do que a minha porção" (Jó 23:11, 12).
O caminho que Jó escolheu era o melhor caminho, o caminho bíblico, o caminho de Deus, o "seu caminho". O que você acha desse caminho, caro leitor? Não foi uma grande escolha? Ah, não só "paciente", mas sábio Jó! Você fez uma escolha semelhante? Você pode dizer: "nas suas pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho, e não me desviei dele?" (v. 11). Se você puder, louve-o por Sua graça. Se você não pode, confesse com vergonha a sua falha em se apropriar de Sua graça. Fique de joelhos, de uma vez, e confesse a Deus. Não esconda nem se recuse a revelar nada. Lembre-se, está escrito: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça" (I João 1.9). O versículo 12 não explica o seu fracasso, o meu fracasso, caro leitor? Não é porque nós não trememos diante dos mandamentos de Deus, e porque temos desmerecido tanto a Sua Palavra, que nós temos "desviado" de seu caminho? Então, vamos agora mesmo, e diariamente, buscar a graça do alto para atender os seus mandamentos e esconder a Sua Palavra em nossos corações. "Ele sabe o meu caminho" Qual o caminho que você está tomando? O caminho apertado que conduz à vida, ou o caminho espaçoso que conduz à perdição? Certifique-se sobre esta questão, caro amigo. A Escritura declara: "De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" (Rom. 14:12). Mas você não precisa se desapontar ou ser indeciso. O Senhor declarou: "Eu sou o caminho" (João 14:6).
2. O teste divino: "Provando-me ele". "O crisol é para a prata, e o forno para o ouro; mas o SENHOR é quem prova os corações" (Provérbios 17:3). Este foi o caminho de Deus com o Israel do passado, e é o seu caminho com os cristãos de hoje. Pouco antes de Israel entrar em Canaã, Moisés reviu as sua história desde que deixou o Egito: "E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o SENHOR teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não" (Deut. 8:2). Da mesma forma, Deus nos testa, prova, nos humilha. "Provando-me ele". Se percebemos mais sobre isso, devemos suportar melhor a hora da aflição e ser mais pacientes sob os sofrimentos. As irritações da vida diária, as coisas que o incomodam muito, qual é o seu significado? Por que elas são permitidas? Aqui está a resposta: Deus está "provando" você! Essa é a explicação (em parte, pelo menos) das decepções, que esmagam suas esperanças terrenas, que causam tão grandes perdas - Deus estava, e está provando você. Deus está provando o seu temperamento, sua coragem, sua fé, sua paciência, seu amor, sua fidelidade. "Provando-me ele". Quão frequentemente os santos de Deus veem apenas Satanás como a causa de seus problemas. Eles consideram o grande inimigo como responsável por grande parte de seus sofrimentos. Mas não há conforto para o coração nisso. Não negamos que o Diabo não traz muita coisa que nos atormenta. Mas, acima de Satanás está o Senhor Todo-Poderoso! O diabo não pode tocar um fio de cabelo de nossa cabeça sem a permissão de Deus, e quando ele é permitido nos perturbar e distrair, mesmo assim, é somente para Deus usá-lo para nos "provar". Vamos aprender então, a olhar além de todas as causas secundárias e instrumentos para Aquele que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade (Efésios 1:11). Isto é o que Jó fez. No capítulo de abertura do livro que leva seu nome, encontramos Satanás obtendo permissão para afligir a um servo de Deus. Ele usou os sabeus para destruir os seus rebanhos (v. 15); mandou os caldeus para matar seus servos (v. 17); ele causou um grande vento para matar seus filhos (v. 19). E qual foi a resposta de Jó? Esta: ele exclamou: "o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR" (1:21).
Jó olhou além dos agentes humanos, além de Satanás que os empregava, olhou para o Senhor que controlava a todos. Ele percebeu que era o Senhor o provando. Temos a mesma coisa no Novo Testamento. Para os santos que estavam sofrendo em Esmirna, João escreveu: "Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados" (Ap 2:10). Ser lançado na prisão era simplesmente Deus os experimentando. O quanto perdemos esquecendo disso! O que uma estada em lugares assim faz para o coração a fim de saber que não importa a forma que o teste pode tomar, não importa o agente que o transtorna, é Deus que está "tentando" Seus filhos. É um perfeito exemplo que o Salvador nos coloca. Quando Ele foi abordado no jardim e Pedro desembainhou a espada e cortou a orelha de Malco, o Salvador disse: "não beberei eu o cálice que o Pai me deu?" (João 18:11). Homens estavam prestes a lançar sua fúria terrível sobre ele, a serpente feriria o seu calcanhar, mas Ele olhou acima e além deles. Caro leitor, não importa o quão amargo seja seu conteúdo, (infinitamente menor do que aquilo que o Salvador bebeu) vamos aceitar a taça como da mão do Pai.
Em alguns estados de espírito estamos aptos a questionar a sabedoria e o direito de Deus em nos tentar. Então, muitas vezes murmuramos diante de Seus desígnios. Por que Deus deveria colocar um fardo tão insuportável em cima de mim? Por que os os seus entes queridos dos outros são poupados, e os meus tomados? Por que a saúde e a força, talvez o dom da visão, é negado a mim? A primeira resposta a todas essas perguntas é: "ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?"! É uma ímpia insubordinação qualquer criatura questionar as condutas do grande Criador. "Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?" (Rm 9:20). Como fervorosamente cada um de nós precisa clamar a Deus, que a Sua graça possa silenciar nossos lábios rebeldes e ainda a tempestade dentro de nossos perversos corações! Mas para a alma humilde que está em submissão perante os soberanos desígnios do sábio Deus, a Escritura dá alguma luz sobre o problema. Esta luz pode não satisfazer a razão, mas vai trazer conforto e força, quando recebida na fé e simplicidade como de uma criança. Em I Pet. 1:6 lemos: "Em que (a salvação de Deus) vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, (ou provas), para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo".
Note três coisas aqui. Primeiro, há uma necessidade de se provar a fé. Uma vez que Deus diz isso, aceitamos. Em segundo lugar, esta prova da fé é preciosa, muito mais do que o ouro. É preciosa para Deus (cf. Sl. 116:15) e ainda vai ser assim para nós. Terceiro, a presente prova tem em vista o futuro. Onde a prova foi humildemente e bravamente e suportada, haverá uma grande recompensa quando na revelação de nosso Redentor. Mais uma vez, em I Pedro 4:12, 13 lemos: "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis". Os mesmos pensamentos são expressos aqui, como na passagem anterior. Há uma necessidade de haver "provas" e por isso estamos a considerá-las não como uma coisa estranha - devemos esperar por elas. E, também, há novamente a abençoada perspectiva de ser ricamente recompensado na volta de Cristo. Depois, há a palavra acrescentada que não só devemos enfrentar essas provações com a coragem da fé, mas nos alegrar com elas, na medida em que nos é permitido ter comunhão com "os sofrimentos de Cristo". Ele também sofreu: suficiente, então, para o discípulo ser como seu Mestre. "Provando-me ele". Caro leitor cristão, não há exceções. Deus teve apenas um Filho sem pecado, mas nunca um sem tristeza. Cedo ou tarde, de uma forma ou de outra, provas que machucam e pesares serão parte de nossa sina. "E enviamos Timóteo, nosso irmão... para vos confortar e vos exortar acerca da vossa fé; Para que ninguém se comova por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos ordenados" (I Tessalonicenses 3:2, 3.). E novamente está escrito: "...pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus" (Atos 14:22). Tem sido assim em todos as épocas. Abrão foi "tentado", tentado seriamente. Assim, também, foi com José, Jacó, Moisés, Davi, Daniel, os Apóstolos, etc.
3. O resultado final. "Sairei como o ouro". Observe o tempo aqui. Jó não imaginava que ele já era como ouro puro. "Sairei como o ouro", declarou ele. Ele sabia muito bem que ainda havia muita escória nele. Ele não se gabava de de já estar perfeito. Longe disso. No capítulo final de seu livro, encontramo-lo dizendo: "me abomino" (42:6). E assim ele poderia, e assim podemos. Como descobrimos que na nossa carne não habita "bem algum", ao examinarmos a nós mesmos e nossos caminhos à luz da Palavra de Deus e contemplamos as nossas inumeráveis falhas, como nós pensamos de nossos incontáveis pecados, tanto de omissão quanto de comissão, uma boa razão temos de abominar a nós mesmos. Ah, leitor cristão, há muita escória sobre nós. Mas não será sempre assim. "Sairei como o ouro." Jó não disse, "quando ele me provar, sairei como o ouro", ou "espero sair como o ouro", mas com total confiança e positiva garantia, ele declarou: "sairei como ouro". Mas como ele sabia disso? Como podemos ter certeza do feliz resultado disso? Porque o propósito divino não pode falhar. Aquele que começou a boa obra em nós "a aperfeiçoará" (Fp 1:6). Como podemos ter certeza do final feliz? Porque a promessa divina é certa: "O SENHOR aperfeiçoará o que me toca" (Salmo 138:8). Então, tende bom ânimo, tentado e perturbado. O processo pode ser desagradável e doloroso, mas o final é encantador e certo. "Sairei como o ouro." Isto foi dito por alguém que conhecia a aflição e a tristeza como poucos entre os filhos dos homens. No entanto, apesar de suas provas de fogo ele era otimista. Que esta linguagem triunfante seja nossa. "Sairei como o ouro" não é a linguagem da vanglória carnal, mas a confiança de alguém cuja mente estava firme em Deus. Não haverá crédito para a nossa conta - toda a glória pertence ao Refinador Divino. Tiago 1:12.
Para o presente restam duas coisas: primeiro, o amor é o termômetro Divino, enquanto estamos no fogo da prova, "E assentar-se-á (a paciência da graça divina) como fundidor e purificador de prata ", etc (Mal. 3:3). Segundo, o próprio Senhor está conosco na fornalha ardente, como foi com os três jovens hebreus (Dn 3:25). Para o futuro, isto é certo: a coisa mais maravilhosa no céu não serão as ruas ou as harpas de ouro, mas as almas de ouro sobre a qual estará estampada a imagem de Deus - "predestinadas para serem conformes à imagem de seu Filho!" Louve a Deus por essa gloriosa perspectiva, essa vitoriosa conclusão, esse maravilhoso objetivo.
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Traduzido por Edimilson de Deus Teixeira
Fonte: Comfort for Christians de A.W. Pink (leia aqui a biografia do autor)