O dom de Deus foi manifesto e anunciado a todos os homens e é esta mensagem (fé) que concede poder a todos que nela confiam ( Jo 1:12 ). A palavra é viva e eficaz! Ela não volta vazia! Faz tudo que lhe apraz! Ou seja, o homem só passa a ‘ouvir’ quando dá credito a fé que lhe foi anunciado. É por isso que o ‘ouvir’ vem pela palavra de Deus, pois só dá credito (ouvem) a palavra de Deus aqueles que são de Deus " Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus" ( Jo 8:47 ).
O que vem primeiro: a fé ou o arrependimento? A resposta a esta pergunta não afeta a doutrina do arrependimento e nem a verdade sobre a fé, porém, é imperioso afirmar que a ‘fé’ vem primeiro que o arrependimento e, após o arrependimento tem-se novamente a ‘fé’, pois o apóstolo Paulo deixa claro que a justiça de Deus é de ‘fé’ em ‘fé’ ( Rm 1:17 ).
A concepção de que não há anterioridade entre fé e arrependimento é errônea e decorre da não compreensão do que é ‘fé’.
Se o interprete se socorrer somente de um dicionário para abstrair o conceito de fé existente nas Escrituras, jamais fará uma boa leitura da bíblia. Embora muitos afirmem que ‘fé’, do Latim ‘fides’ (fidelidade) e do grego ‘pistia’ significa firme opinião de que algo é verdade, sem a necessidade de qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, apoiado em uma absoluta confiança que se deposita em uma ideia, tal definição não reflete a verdade bíblica.
Portanto, se o leitor da bíblia verificar que Cristo é a fé que havia de se manifestar ( Gl 3:23 ), e que Ele é preexistente ( Cl 1:17 ), temos que a ‘fé’ é a mesma ontem, hoje e será (é) eternamente, o que não podemos dizer do arrependimento ( Hb 13:8 ).
Na sua grande maioria os interpretes das Escrituras não se dão conta que a palavra ‘fé’ quando empregada nas escrituras (em muitos dos casos) é uma figura de linguagem denominada ‘metonímia’ ou ‘transnominação’, que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles.
Quando Judas diz que o cristão deve batalhar pela ‘fé’ que uma vez foi dada aos santos, o termo ‘fé’ substituiu a ideia pertinente ao termo ‘evangelho’, dada a possibilidade de associação entre os termos, tendo em vista que o evangelho é a causa da crença (fé), e a fé (crença) consequência do evangelho ( Jd 1:3 ).
De modo similar, Cristo é a ‘fé’ que havia de se manifestar, visto que Cristo é o tema central da mensagem do evangelho e, concomitantemente, o autor e consumador da ‘fé’ (evangelho), ou seja, o recurso de estilo acaba substituindo a obra (fé) pelo autor (Cristo).
A ‘obediência da fé’ que consta em Romanos 1, verso 5 é um modo utilizado pelo apóstolo Paulo substituir o termo ‘evangelho’ pelo termo ‘fé’, ou seja, substitui-se a causa pelo efeito.
No verso 8 do mesmo capítulo, o apóstolo Paulo dá graças a Deus porque em todo o mundo é ‘anunciado o evangelho’, porém, ele substitui o termo ‘evangelho’ pelo termo ‘fé’, ou seja, em todo o mundo é anunciado a vossa fé ( Rm 1:8 ).
Estabelecendo a relação entre ‘fé’ e ‘mensagem do evangelho’, e ‘evangelho’ igual a ‘Cristo’, temos que Cristo é a palavra encarnada e, como o Verbo encarnado é pré-existente, temos que a ‘fé mutua’ (evangelho) é anterior ao arrependimento.
Porém, como a mensagem do evangelho (a ‘fé’ que foi dada aos santos), produz naqueles que ouvem ‘confiança’, o que comumente também denomina-se ‘fé’, neste sentido o termo ‘fé’ assume o valor de descansar (confiar) na esperança proposta (evangelho), ou seja, é o mesmo que crer ( Rm 10 : Hb 11:6 ).
Mesmo o apóstolo Paulo deixando claro que a justiça de Deus é de fé (evangelho) em fé (crer), poucos fazem distinção entre causa e efeito, ou entre o que é eterno (evangelho, Verbo que se fez carne) e o que um dia será tirado (fé como crer, acreditar, descansar, esperança) ( 1Co 13:13 ).
Deste modo é possível definir que ‘fé’ para a salvação é o mesmo que evangelho, pois assim o apóstolo Paulo define: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação...” ( Rm 1:16 ).
Neste sentido temos que, pelo evangelho (fé) os homens são salvos, ou seja, o evangelho é dom de Deus “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” ( Ef 2:8 ). Cristo se identificou como o dom de Deus à samaritana, ou seja, a fé que havia de se manifestar ( Jo 4:10 ).
O dom de Deus foi manifesto e anunciado a todos os homens e é esta mensagem (fé) que concede poder a todos que nela confiam ( Jo 1:12 ). A palavra é viva e eficaz! Ela não volta vazia! Faz tudo que lhe apraz! Ou seja, o homem só passa a ‘ouvir’ quando dá credito a fé que lhe foi anunciado. É por isso que o ‘ouvir’ vem pela palavra de Deus, pois só dá credito (ouvem) a palavra de Deus aqueles que são de Deus " Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus" ( Jo 8:47 ).
Crer só é possível através do ‘ouvir’ ( Rm 10:14 ; Mt 13:23 ), e o ‘ouvir’ (dar crédito, crer, ter fé) só é possível pela palavra de Deus, portanto, a justificação é de fé em fé. O verbo ‘ouvir’ deve ser compreendido como ‘dar crédito’, ‘descansar’, ‘crer’.
Quando se ‘ouve’ a palavra de Deus (fé) o homem tem elementos suficientes para ter uma mudança de mente, uma mudança de compreensão (metanóia). O arrependimento é mudança de compreensão “Mas, o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta” ( Mt 13:23 ).
Quando se ouve (evangelho) e compreende, a nova compreensão é o resultado do arrependimento (metanóia), que faz com que o homem descanse na promessa estabelecida em Cristo (crer).
Quando o homem crê em Cristo, tendo em vista a mudança de concepção (metanóia) operada pelo evangelho, que é poder de Deus e semente incorruptível, o homem é de novo gerado, segundo Deus em verdadeira justiça e santidade.
Através do evangelho é enxertada no homem a semente de Deus. Através do evangelho ocorre o lavar regenerador do Espírito, momento em que Deus concede ao homem um novo coração e um novo espírito ( Ez 36:25 ; Sl 51:10 ).
A regeneração não é algo que Deus realiza na mente do homem, antes a regeneração diz da criação do novo homem, pois após a velha criatura ser morta e sepultada com Cristo, Deus faz tudo novo, momento que passa a existir uma nova criatura.
O arrependimento não é mudança de coração e vontade. A mudança de coração só Deus pode operar e se dá na regeneração através da circuncisão de Cristo, pois é através do espargir de água pura (evangelho) que Ele concede novo coração e novo espírito.
Já com relação à vontade, é algo pertinente ao cristão, tendo em vista que o apóstolo Paulo deixa bem claro: “Transformai-vos pela renovação do vosso entendimento...” ( Rm 12:2 ).
A regeneração não muda a mente, antes só muda o coração e o espírito, pois após regenerado o homem permanece de posse da sua memória. Embora o apóstolo Pedro já estivesse limpo pela palavra de Cristo, contudo a sua mente continuava embotada, ou seja, demandava por parte do apóstolo transformar o seu entendimento.
A mudança radical que ocorre no homem é pertinente à sua natureza, que antes era carnal e, agora, em Cristo, é participante da natureza divina. Antes estava em trevas e, agora, foi transportado para o reino da luz. Antes filhos da desobediência e da ira e, agora, filhos de Deus pela fé (crença) em Cristo (tema do evangelho).
Não se deve pensar o arrependimento como mudança da mente em referência a pecados de cunho moral, pois se assim fosse, a ideia que estabelecia ‘paenitentia’ como arrependimento (o que é completamente diverso de ‘metanóia’), seria plenamente válida, e os posicionamentos dela decorrente como os pecados veniais e capitais somados às indulgências.
Arrepender-se é mudar de concepção de como o homem se salva, o que o leva a crer na esperança proposta em Cristo.
Aliado ao tema arrependimento tem-se a ‘confissão’, que é ‘reconhecimento’ da condição sob o pecado: alienado de Deus.
A palavra traduzida do grego por ‘confessar’ significa ‘admitir’, ‘assumir’, ‘reconhecer’. Quando se confessa pecado é o mesmo que admitir a sua real condição sob domínio do pecado. De igual modo, quando se ‘confessa’ a Cristo é reconhecê-Lo, admitir que Cristo é o Filho de Deus e salvador do mundo.
Quando há o arrependimento (metanóia), o homem admite (confessa) que Cristo é salvador.
Portanto, o evangelho é a mensagem de que, pela graça o homem é salvo, o que opera a mudança de concepção (metanóia). Após ter contato com a mensagem do evangelho o homem admite (confessa) que é pecador e, em decorrência da mudança de pensamento acerca de como ser salvo, repousa em Cristo.
Quando Jesus, após a ressurreição, abriu o entendimento dos discípulos, para que entendessem as Escrituras, Ele lhes disse: “Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” ( Lc 24:46 -47).
Jesus não exigiu ‘penitencia’ e nem ‘confissão’ de pecados de cunho moral junto a sacerdotes, antes ele ordena que se pregue a mudança de concepção (arrependimento), pois só em seu nome há a remissão de pecados.
Quando Pedro pregou à multidão, no Dia de Pentecostes, os ouvintes foram constrangidos a perguntar: “Que faremos, irmãos?”. Pedro respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados” ( At 2:37 -38). A mensagem era simples: mudem de concepção (metanóia) e, sejam batizados em Cristo para remissão de pecado.
O apóstolo Paulo testificou que “... tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus é a fé em nosso Senhor Jesus” ( At 20:21 ), ou seja, tanto judeus quanto gentios precisam mudar de concepção, ou seja, devem aceitar a mensagem do evangelho crendo em Cristo.
O cristão deve permanecer firme na fé (evangelho) ( 1Co 16:13 ), enquanto o não crente precisa abandonar a sua própria concepção e crer na esperança proposta, o que se denomina arrependimento (metanoia), que é mudança especifica de pensamento para que o homem aceite a Cristo como salvador ( Rm 21:2 ).
O evangelho (fé) vem primeiro que o arrependimento, pois a mudança de pensamento (metanóia) resulta do evangelho.