A Salvação é Eterna — ARGUMENTOS CONTRÁRIOS (3)
Neste capítulo continuaremos a ver os versículos que parecem argumentar contra a salvação ser eterna.
ARGUMENTO BASEADO EM 2 CORÍNTIOS 2:7
A Segunda Epístola aos Coríntios 2:6-7 diz: “Basta-lhe a punição pela maioria. De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza”. Em algumas traduções as palavras “seja consumido” são traduzidas para “pereça”. Um irmão em Corinto, por causa do seu pecado, havia recebido a punição pela maioria. Paulo estava preocupado, porque os irmãos e irmãs o haviam tratado muito severamente. Ele pediu-lhes que perdoassem e encorajassem tal pessoa, para que ela não perecesse por excessiva tristeza. Alguns podem argumentar que se excessiva tristeza pode levar uma pessoa a perecer, não seria isso uma indicação de que um cristão pode perecer?
Temos de perceber que esse irmão é o mesmo mencionado em 1 Coríntios 5. Ele cometeu um pecado grosseiro, o pecado de um tipo anormal de fornicação. Paulo disse que tal irmão precisava ser afastado (vs. 12, 13). Os santos em Corinto levaram em consideração a palavra de Paulo e afastaram-no. Depois de ser afastado, ele percebeu que era pecador e ficou muito triste e angustiado por causa do seu pecado. Paulo disse aos santos, na Segunda Epístola aos Coríntios, que eles tinham de confortá-lo e encorajá-lo para que esse irmão não fosse consumido por excessiva tristeza. Se não formos cuidadosos, podemos pensar que “perecer”, aqui, significa ir para o inferno. Paulo, entretanto, em 1 Coríntios 5:5 diz que seja “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor”. Baseados nessa palavra, podemos ousadamente dizer que tal pessoa era salva. O que é mencionado em 2 Coríntios 2:7 não é definitivamente uma questão do perecer do espírito.
Além disso, a palavra que significa “consumido por excessiva tristeza” não é uma palavra utilizada normalmente; é uma palavra especial na língua grega. A palavra katapino denota alguma coisa sendo engolida, como um navio afundando no oceano e sendo engolido por ele. Depois que tal irmão pecou e foi excomungado, arrependeu-se. Ele pensou que fora excomungado e totalmente rejeitado. Pensou que tinha perdido toda a esperança. Portanto, continuou em sua tristeza e angústia. O pensamento de Paulo era que se a igreja não lhe perdoasse e não o confortasse logo, ele seria consumido pela tristeza. Isso não é uma questão de salvação ou perdição da alma.
ARGUMENTO BASEADO EM 2 PEDRO 3:16
Consideremos agora outra passagem. A Segunda Epístola de Pedro 3:16 diz: “Ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles”. Depois de ler essa palavra, alguns podem argumentar que Pedro está nos dizendo que a carta de Paulo era difícil de se entender e que alguns incultos e instáveis causam sua própria destruição, deturpando-a. Se eles podem ser destruídos, isto não indica que podem perecer? Uma pessoa salva pode perecer? Neste caso Pedro não está se referindo absolutamente à perdição eterna.
De acordo com a Bíblia, perecer ou não, não depende da maneira como se interpretam as Escrituras. Tenho visto na China muitos cristãos que amam o Senhor e laboram em toda parte na obra do evangelho. Eles ainda não entenderam verdadeiramente a carta de Paulo. Quando pregam, fazem mais do que deturpar a palavra das Escrituras. Esses cristãos irão perecer? A exposição errada das Escrituras pode ser um fator de perdição? A Bíblia nunca faz da exposição correta da Bíblia uma condição para a salvação. Portanto, a palavra de Pedro aqui pode significar algo mais.
Além disso, em grego, a palavra apoleia não se refere a um tipo comum de destruição. É uma palavra diferente daquela usada em 2 Coríntios 2:7. É diferente da palavra habitualmente usada para “perdição”. Em grego, esta palavra apollyon significa destruir ou ser corrompido. Se algo é tomado de você delicadamente, trata-se simplesmente do ato de tomar; se algo é arrancado de suas mãos com força, trata-se de apollyon. O que Pedro quis dizer na sua epístola é que alguns entendiam mal a carta de Paulo e não tinham luz da parte de Deus. Deturparam sua palavra do mesmo modo que algo é arrancado à força das mãos de uma pessoa. Fazendo assim, eles estavam destruindo a si mesmos e não se edificando. Destruição é o oposto de edificação. Se você não está sendo edificado, está sendo destruído. Ao agir assim, você não será edificado, mas terá sua obra destruída. Portanto, esses dois versículos não nos dizem que um homem pode perecer depois de salvo. Eles descrevem aqueles cuja obra e viver após a salvação não são aperfeiçoados e que são incapazes de ser edificados dia a dia. Se deturpar a carta de Paulo, você estará destruindo o que já tem.
ARGUMENTO BASEADO EM HEBREUS 10:26
Há outra porção das Escrituras que precisa ser mencionada. É também uma passagem que muitos não entendem. Hebreus 10:26-29 diz: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” A pessoa mencionada nesta porção da Palavra deve ser salva, porque já recebeu o sacrifício pelos pecados. O apóstolo disse que se alguém que já recebeu o sacrifício pelos pecados, pecou deliberadamente, já não resta sacrifício pelos pecados. Não há problema depois do versículo 27. Porém, o versículo que muitos leitores da Bíblia acham difícil de entender é o versículo 26, que diz: “Já não resta sacrifício pelos pecados”. Algumas pessoas pensam que se, infelizmente, um cristão comete pecados deliberadamente, já não resta mais sacrifício de pecados por ele. Nesse caso significaria que ele certamente irá perecer. Hebreus 10:26 é um problema para muitas pessoas. Quando fui salvo, também achava que esse versículo era um grande problema, e por mais de um ano considerei-me não-salvo por causa desse versículo. Por esta razão devemos gastar um tempo considerável para descobrir do que Hebreus 10:26 fala.
A primeira coisa que precisamos mencionar é a palavra “deliberadamente”. Que se entende por “deliberadamente”? Esta palavra significa “conscientemente”? Esta pode ser a resposta que nós daríamos. Mas eu perguntaria: há muitos cristãos que pecam inconscientemente? Todos os dias nós pecamos. Contudo, quantas vezes pecamos inconscientemente? Creio que toda vez que pecamos, o fazemos “deliberadamente”. Pouquíssimas pessoas pecam inconscientemente. Na maioria das vezes nós pecamos “deliberadamente”. Em Romanos 7 Paulo diz: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto”. (v. 15). Por isso sabemos que Paulo não caiu em pecado acidentalmente. Todos os seus pecados foram cometidos depois que ele estava plenamente consciente do seu erro. Portanto, está claro em Romanos 7 que todos os pecados de Paulo foram cometidos “deliberadamente”. Se Paulo pecou “deliberadamente”, então, de acordo com Hebreus 10:26, não haveria mais sacrifício pelos pecados. Se uma pessoa perecesse e fosse para o inferno, ela veria Paulo lá, porque nem mesmo ele teria mais sacrifício pelos pecados. Portanto, vemos que a palavra “deliberadamente” em Hebreus 10:26 não significa conscientemente. Se assim fosse, todos os cristãos pereceriam. Não importa que tipo de cristão você seja, incontáveis vezes na sua vida você peca mais consciente do que inconscientemente. Se a situação acima fosse verdadeira, nenhum cristão seria salvo. Portanto, “deliberadamente”, aqui, deve significar algo mais.
O segundo ponto é que o versículo 26 começa com a palavra “porque”. Para essa palavra estar presente no início da frase, deve ter ocorrido algo nos versículos anteriores, que justifique seu uso. Tal palavra não pode ser usada sem uma sentença anterior. Nos versículos 26 a 29, a primeira sentença começa com “porque”, significando que havia algo mencionado anteriormente. Antes deles, o versículo 25 diz: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima”. Por que não devemos deixar de reunir-nos, mas admoestar-nos uns aos outros? Porque quando pecamos deliberadamente depois de receber o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados. Se não ler esta porção da Palavra cuidadosamente, você não perceberá que esses dois versículos andam juntos. Se realmente lê-la com bastante cuidado, perceberá que estes dois versículos estão ligados. Eles são muito significativos. Temos de perceber que deixar de reunir e pecar deliberadamente estão ligados. Não devemos deixar de nos reunir, mas exortar-nos uns aos outros, porque, se pecamos deliberadamente, já não resta sacrifício pelos pecados. Quanto ao aspecto negativo, não devemos deixar de nos reunir. Do lado positivo, não devemos pecar deliberadamente. Se nos reunimos, então não somos os que pecam deliberadamente. Se nós, habitualmente, deixamos de nos reunir, somos os que pecam deliberadamente. Aqui, o apóstolo associa o deixar de se reunir ao pecar deliberadamente. Por que há tal relacionamento íntimo entre deixar de reunir e pecar deliberadamente? Nesta conjuntura devemos ver o terceiro ponto. Precisamos conhecer o contexto do livro de Hebreus. Quem eram as pessoas referidas neste livro? Eram os judeus que creram no Senhor Jesus. Assim, o livro de Hebreus foi escrito para os cristãos judeus. A posição dos judeus é diferente da dos gentios. Os gentios têm somente a posição espiritual e não a posição física, terrenal. Os judeus possuem ambas, a posição espiritual e a física. Eles possuem tanto a posição celestial como a terrenal. Hoje, quando falamos do Santo dos Santos, imediatamente pensamos em um lugar onde Deus habita nos céus. Mas os judeus, quando consideram o Santo dos Santos, no seu pensamento o que ocorre é o Santo dos Santos no interior do templo em Jerusalém, no Monte Moriá. Os judeus têm não somente o Santo dos Santos nos céus, mas têm também um Santo dos Santos na terra. Eles têm não somente um templo no céu, mas também um templo na terra. Portanto, na mente deles há tanto o aspecto espiritual como o aspecto físico, tanto o aspecto celestial como o terrenal. Eles possuem tanto o Antigo como o Novo Testamento. Eles possuem ainda o Santo dos Santos físico e, com ele, as ofertas.
Para nós, o sacrifício pelos pecados é o Senhor Jesus Cristo. Ele é a nossa oferta pelo pecado. Contudo, os judeus ainda não tinham clareza se era o Senhor Jesus Cristo ou eram os touros e cabras o sacrifício pelos pecados deles. Naquele tempo eles tinham os sacerdotes, o altar, e os sacrifícios de touros e cabras sobre o altar. Não tinham somente o sacrifício espiritual pelos pecados, mas também tinham o sacrifício terrenal pelos pecados. Cristãos e judeus não estão na mesma posição. Os cristãos gentios são diferentes dos cristãos hebreus. No ano 70 d.C. o imperador romano Tito destruiu o templo em Jerusalém e não foi deixada pedra sobre pedra. Entretanto, quando o livro de Hebreus foi escrito, o templo terrenal ainda estava lá e os sacrifícios ainda estavam sendo oferecidos. Depois que muitos judeus creram no Senhor Jesus, eles tiveram de tomar uma decisão, se queriam o altar terrenal ou o celestial, os sacrifícios terrenais ou o sacrifício celestial. Naquele tempo os judeus não podiam ter ambos ao mesmo tempo, o sacrifício celestial e o terrenal. Todos os que lêem o livro de Hebreus sabem que este livro foi escrito com o propósito de que os cristãos abandonassem o judaísmo e optassem pelo cristianismo. O propósito do livro de Hebreus é encorajar os cristãos a deixarem os sacrifícios terrenais e aceitarem o sacrifício celestial. Esse é o pano de fundo do livro.
Portanto, quando se diz que alguém não deve deixar de reunir-se, não significa que a reunião dos cristãos pode salvá-lo ou qualificá-lo para possuir a vida eterna. A reunião de cristãos indica se um cristão quer o judaísmo ou Cristo. A nossa reunião torna-se uma expressão da nossa atitude para com Cristo. Naquele tempo todos os que se reuniam eram cristãos. Não importava se fosse gentio ou judeu; uma vez que se reunisse, era um cristão. Portanto, reunir-se tornou-se um sinal de aceitar Cristo e deixar de reunir-se era um sinal de deixar Cristo e abraçar o judaísmo. Do mesmo modo, pecar deliberadamente, aqui, não se refere a coisas como assassinato, incêndio premeditado, bebedices, jogatina e libertinagem. Pecar deliberadamente, aqui, não se refere a pecados morais; refere-se a pecados doutrinais. Não diz respeito ao seu andar ser adequado ou não. Refere-se ao fato de você ter recebido Cristo ou o judaísmo. Reunir-se significa que você deseja Cristo e está na posição de Cristo. Deixar de reunir-se significa que você deu as costas a Cristo e voltou-se em direção ao judaísmo; significa também que você quer o templo, o altar e os sacrifícios terrenais. Indica que você quer voltar ao judaísmo e deixar Cristo. Se esse for o caso, não resta mais sacrifício pelos pecados.
Voltemos agora ao primeiro ponto. O versículo 26 diz: “Depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade”. Não diz “depois de sermos regenerados” nem diz “depois que nossos atos pecaminosos foram purificados”. Se dissesse “depois de sermos regenerados” ou “depois de sermos purificados”, então, pecar deliberadamente seria uma questão da nossa conduta. Porém aqui diz: “Depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade”. Isso é uma questão de conhecer. Você sabe o que é a verdade? A verdade é a fé de um cristão. A verdade é que Deus enviou Seu Filho ao mundo para ser a oferta pelo pecado. A verdade é que Deus enviou Seu Filho para morrer por nós e ressuscitar para satisfazer todos os requisitos de Deus. Tudo isso tem a ver com os itens da fé, da parte de Deus. Portanto, pecar deliberadamente, aqui, não significa as transgressões do nosso viver cotidiano. Significa pecar contra a verdade. Não é um pecado comportamental, mas um pecado doutrinal e relativo à crença de uma pessoa. É um pecado que se opõe à fé e à verdade, depois de alguém receber o pleno conhecimento da verdade.
Os cristãos hebreus eram judeus e tinham estado no judaísmo por muitos anos. Agora que eram cristãos, se ainda desejassem voltar ao judaísmo, se ainda quisessem ambos, isto é, por um lado estar na posição do judaísmo e, por outro, ficar na posição do cristianismo, não restaria mais sacrifício pelos pecados. Em tempos antigos os chineses adoravam ídolos. O Templo do Céu em Pequim era o lugar onde os imperadores ofereciam sacrifícios. Lá os homens matavam touros e os ofereciam à mais alta deidade nos céus. Era o imperador terrenal oferecendo sacrifícios à mais alta deidade nos céus, para redimir os pecados do povo. Suponha que esse imperador terrenal cresse no Senhor Jesus. Você crê que ele poderia voltar ao Templo do Céu para oferecer sacrifícios? Depois que recebeu Cristo como sacrifício pelo pecado não poderia mais voltar ao Templo do Céu para oferecer sacrifícios. Ou ele aceitava o Templo do Céu ou o Senhor Jesus. Isso é o que a Bíblia quer dizer com pecar deliberadamente. Não é uma questão de pecado em nossa conduta.
O versículo 26 continua: “Já não resta sacrifício pelos pecados”. As palavras “já não” significam “novamente”. Sempre que as palavras “já não” aparecem, significa que deve haver algo nos versículos anteriores. Alguns compreendem equivocadamente a Palavra de Deus. Pensam que a frase: “Já não resta sacrifício pelos pecados” implica perdição. Esse não é absolutamente o pensamento de Deus.
Devemos olhar Hebreus 7:27b, que diz “Porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”. Isso nos diz que depois que o Senhor Jesus se ofereceu uma vez por todas a Deus, como sacrifício pelos pecados, tudo está plenamente cumprido. Por favor, tome cuidado com as palavras “uma vez”. Vejamos Hebreus 9:12b, que diz: “Entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”. Aqui nos diz novamente que o Senhor Jesus se ofereceu a Si mesmo somente uma vez, e então a obra de redenção foi cumprida eternamente. Consideremos novamente as palavras “uma vez”. Hebreus 9:25-28 diz: “Nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Esses versículos mencionam duas vezes as palavras “muitas vezes”, e duas vezes as palavras “uma vez” em referência a Cristo. Não muitas vezes, mas uma vez por todas, Cristo se ofereceu a Si mesmo diante de Deus como o sacrifício pelos pecados e completou a obra de redenção. Por favor, preste atenção, aqui, às palavras “muitas vezes” e “uma vez”.
Hebreus 10:10 diz: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”. O versículo 12 diz: “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”. O versículo 14 continua: “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. Os sacerdotes terrenais tinham de oferecer sacrifícios a Deus muitas vezes. Contudo, Cristo ofereceu-se uma só vez e nós fomos santificados. Depois que Cristo se ofereceu uma vez como sacrifício eterno, Ele então assentou-se à destra de Deus. Assentou-se, porque não mais precisava trabalhar. Ele se ofereceu uma vez e nós estamos eternamente aperfeiçoados. Desde que Ele já completou Sua obra, não há mais nenhum problema.
Portanto, depois de ler tantos versículos, podemos compreender o significado do versículo “Já não resta sacrifício pelos pecados”. A passagem de Hebreus do capítulo sete ao dez, com exceção do capítulo oito, diz que a obra de redenção, uma vez concluída, está eternamente cumprida. Se você não quer Cristo, já não resta sacrifício pelos pecados. Cristo ofereceu-se somente uma vez, como sacrifício pelos pecados. Se você não quer a redenção de Cristo, mas volta ao judaísmo, você não encontrará mais nenhum outro sacrifício pelos pecados. Portanto, aqui não é uma questão de ser salvo ou perecer. O que é dito aqui é que a obra de Cristo foi cumprida uma vez. Se você não quiser esse sacrifício, não terá um segundo.
Se prestar atenção às palavras “já não”, você verá que elas estão ligadas à palavra “sacrifício”. Os versículos anteriores mencionam repetidamente as palavras “uma vez por todas” e o versículo seguinte diz “já não resta”. É equivalente a dizer, por exemplo, no capítulo 8, “eis aqui o único lápis”. Então, no capítulo nove eu repito “eis aqui o único lápis”. Novamente no capítulo 10 eu digo “eis aqui o único lápis”. Depois disso eu posso explicar: “Se você não quer este lápis ou se quer trocá-lo por outro, não haverá outro. Pegue este, se você o quer. Se não o quiser, não há outro para você”. Então, esse versículo não significa que, depois de receber o conhecimento da verdade e, então pecar deliberadamente, não mais receberá perdão. Isso não é uma questão de pecado, é uma questão da verdade, uma questão da fé cristã. Se você abandonar a fé cristã e buscar outro Salvador, outro sacrifício pelos pecados, você não encontrará.
Naquele tempo, alguns dentre os judeus provavelmente pensavam que se rejeitassem a fé cristã, poderiam ainda voltar ao templo, voltar ao altar e ter os sacerdotes para oferecer touros e cabras por eles. Mas isso indicaria outro sacrifício pelos pecados. Os judeus, naquele tempo, ainda tinham os sacerdotes e o altar. Sua crença em Cristo era diferente da nossa crença em Cristo. No entendimento deles, eles podiam escolher crer ou não crer. Não eram como os cristãos gentios, cuja única opção seria voltar à adoração de ídolos, caso não cressem. Se quisessem Deus, poderiam escolher Deus; mas se não O quisessem, sua única escolha seria o mundo. Eles não teriam uma terceira escolha. Com os judeus era diferente. Eles achavam que se não quisessem Cristo, poderiam ainda ser salvos; que se não quisessem Cristo, poderiam ainda ter a redenção dos pecados, porque poderiam manter os sacerdotes e as ofertas. Se tivessem muito dinheiro, comprariam um touro; se não tivessem tanto dinheiro, poderiam adquirir uma cabra.
Aqui, o apóstolo estava dizendo aos judeus que Cristo já tinha se oferecido uma vez por todas e completado a obra de redenção eterna diante de Deus; que Deus já havia abolido a velha aliança juntamente com os velhos sacrifícios. Antes da vinda de Cristo, os touros e cabras podiam fazer propiciação pelos seus pecados. Mas depois da vinda de Cristo, os sacrifícios de touros e cabras não podiam mais tirar os pecados; esses sacrifícios tinham sido, na verdade, abolidos. Isso é o que nos mostram os capítulos sete a dez de Hebreus. Deus não somente deu Seu Filho como sacrifício, mas Ele aboliu os sacrifícios de touros e cabras. A primeira metade do capítulo dez menciona que Deus não tem prazer em touros e cabras nem em ofertas e sacrifícios pelo pecado. Deus preparou Seu Filho. Touros e cabras não podem redimir os homens dos seus pecados; somente o Filho de Deus pode redimir-nos dos pecados. Os sacrifícios de touros e cabras no Antigo Testamento eram apenas tipos e sombras; eles referem-se ao Filho de Deus como o sacrifício. Deus disse que a velha aliança é algo do passado; os tipos acabaram e a realidade chegou. Não mais será aceitável eles rejeitarem o Filho de Deus, isto é, rejeitar a realidade e oferecer os tipos. De acordo com Deus, há somente um sacrifício pelos pecados. Além de Cristo, não há outro sacrifício pelos pecados. Hebreus 10:26 diz-nos que se abandonarmos Cristo para procurar outro Salvador, não encontraremos nenhum.
Portanto, rigorosamente falando, essa porção da Palavra não é para nós. Se alguns dizem que depois que um homem recebe o Senhor Jesus e peca deliberadamente, irá perecer, isso contradiz o contexto dessa passagem; contradiz também todo o livro de Hebreus. Aqui se está falando sobre um ponto doutrinal. Hebreus mostra-nos que além do nome de Jesus Cristo “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12). Isso não significa que um cristão irá para o inferno se pecar.
Hebreus 10:27 diz: “Pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários”. Depois de receber o conhecimento da verdade e ter conhecimento claro de que o Senhor Jesus Cristo é o sacrifício ordenado por Deus pelos pecados, se os cristãos judeus deixassem de se reunir, rejeitassem a Cristo, voltassem ao judaísmo e procurassem outros sacrifícios pelos pecados, já não restaria mais nenhum sacrifício pelos pecados. Eles poderiam somente aguardar certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Antes de ser salvos, eles dependiam apenas de touros e cabras para fazer propiciação por seus pecados. Mas depois de perceberem que o Senhor Jesus é o único Salvador, eles não podiam mais depender de touros e cabras. Se rejeitassem o Senhor Jesus, teriam apenas uma terrível expectação de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Eles poderiam tomar somente o Senhor Jesus como Salvador. Além Dele, não há outro caminho para a salvação. Todos os touros e cabras apontam para Cristo; touros e cabras são apenas tipos de Cristo. Cristo é a realidade. É inadmissível que eles rejeitassem a realidade, recorrendo aos tipos. Portanto, Hebreus 10:26, 27 nunca diz que depois de uma pessoa ser salva, ela pode ainda perecer. Isso é o homem deturpando a verdade de Deus.
Quando lemos a Bíblia, devemos ler o que está nela, não o que não está nela. Certa vez alguém me perguntou como poderia entender a Bíblia. Respondi-lhe que para entender a Bíblia, primeiro devemos ser aqueles que não entendem a Bíblia. Se não a entendermos, então iremos entendê-la. Se dissermos que sabemos isto e aquilo, então não teremos mente sóbria. Se não tivermos mente sóbria, teremos problemas. Hebreus 6 e 10 deveria ser tão fácil, simples e claro como João 3:16 o é. A razão pela qual a mente humana não é clara é que o homem põe suas próprias palavras na Bíblia. Muitas pessoas acham difícil ler a Bíblia; não porque a Bíblia não seja clara, mas porque essas pessoas já têm idéias pré-concebidas em sua mente.