Não é sem razão que João é carinhosamente chamado de “apóstolo do
amor”. O tema – em seus vários aspectos – é o assunto central de sua
primeira epístola (2.15; 3.1,16,17;4.7-10,12,16-18; 5.3). Assim como no
texto bíblico, ele aparecerá em nosso estudo várias vezes, pois não se
pode falar de cristianismo, de vida cristã, sem falar de amor. A
abordagem do assunto em várias ocasiões dá a idéia de sua importância e,
ao mesmo tempo, da obrigatoriedade de sua prática.
I. O MANDAMENTO ATEMPORAL
Em seus ensinamentos, Jesus Cristo enfatizou reiteradas vezes a
importância do fundamento da obediência e a razão principal de sua
prática: o amor (Mt 22.37,39; Jo 13.34; 15.12). João focaliza o amor
entre os irmãos, relembrando o ensino do Mestre, que disse aos seus
seguidores que seriam conhecidos como “seus discípulos” pelo amor com
que se amavam (Jo 13.35). Além disso, o ensinamento bíblico é claro
quando afirma que, havendo cessado os dons espirituais, o amor ainda
adentrará os portais da eternidade (1 Co 13.8).
Mandamento “antigo” e “novo”. Neste texto, o apóstolo
João chama os nascidos de novo à obediência do mandamento de amar;
porque, ao praticá-lo, o cristão cumpre a lei (Mt 22.34-40, Rm 13.8-10;
Tg 2.8). Ele nos fala de algo, aparentemente contraditório, que é o
“antigo” e o “novo” mandamento. Na realidade, os dois adjetivos se
referem ao mesmo mandamento que é o de amar. Como servimos ao Deus
imutável, que nos manda amar tanto no Antigo quanto no Novo Testamento
(Lv 19.18; Mq 6.8; Mc 12.33), e que inspirou Paulo a escrever que o
“amor nunca passará” (l Co 13.8), é plenamente claro que o amor é
atemporal, ou seja, independente do tempo.
Em que sentido o mandamento de amar é antigo e novo. Apesar de a
epístola de João ser universal, ela foi produzida dentro de uma
realidade lacal, au seja, para uma camunidade de fé, para uma igreja.
Considerando a época em que foi escrita e o momento em que o grupo
cristão a recebeu, é possível entender que João se referia a um assunto
basilar aprendido no início da fé, quando de sua conversão (cf. 1 Jo
3.11). Neste sentido ele não é novo, mas antigo. Por outro lado, João
destaca o ensino de Jesus Cristo que disse: “Um novo mandamento vos dou:
Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós
uns aos outros vos ameis” (Jo 13.34). A idéia não é que cada um deve
amar do jeito que puder, pois o padrão de amar é o mesmo do Meigo
Nazareno (1 Jo 3.16). ” Em contraposição à postura que supervalorizava o
exterior, os cristãos não devem ser conhecidos pela abservação cega e
legalista de regras, mas pela vivência do amor em seus diversos
relacionamentos. Em outro sentido, não devemos esquecer que como um
organismo vivo, a igreja recebe novos membros constantemente, e tal
mandamento para os novos convertidos torna-se então novo.
O Senhor Jesus é o nosso exemplo de amor. O objetivo
de cada cristão é ser como Cristo (Ef 4. 13). No quesito amor, Ele nos
deixou a exemplo de um amor incondicional ao comer com pecadores e
publicanos (Mt 9.10,11 ; Mc 2.16). Declarou que há festa no céu quando
um pecador se arrepende (Lc 15.7,10), demonstrando o valor que atribui a
cada ser humano. Era sobre este amor que João pensava quando disse que
devemos amar uns aos outros (Jo 13.34; 15.12,17), dando uma nova
roupagem aos mandamentos das leis do Antigo Testamento (Lv 19.18; Dt
6.5). Na verdade, o mandamento “amarás o teu próximo” recebeu um
significado todo especial a partir do ensinamento de Cristo sobre quem é
o próximo (Lc 10.29-37). Para o Mestre, judeus, publicanos, gentios ou
qualquer outro estranho, têm o mesmo valor (Cl 3.11).
II. O CONTRASTE ENTRE LUZ E TREVAS
Mesmo tendo abordado o assunto anteriormente em uma única lição, a
exemplo do que ocorre com o amor, João utiliza mais de uma vez o
contraste entre “luz e trevas”, de maneira completa ou implícita (1.5,7;
2.8-10).
Os filhos da luz. O contraste entre luz e trevas é uma
figura muito usada no Novo Testamento para exemplificar a diferença
entre o mundo e o Reino de Deus. Os nascidos de novo vieram das trevas
para a luz (Jo 8.12), e são, eles mesmos, considerados luz (Mt 5.14).
Fazendo alusão a esta mesma figura de linguagem, João explica que, uma
vez salvos das trevas, se quisermos permanecer na luz, devemos amar uns
aos outros assim como Cristo nos amou. Na realidade, a comunhão com os
irmãos é a prova de que estamos na luz.
Evitando o ódio e mantendo-se na luz. As Escrituras
deixam claro que é impossível alguém odiar seu irmão e andar na luz.
Aliás, o simples fato de alguém confessar Cristo como seu Salvador e
aborrecer (“odiar” na ARA) os seus irmãos, demonstra que esta pessoa
está em trevas, isto é, não tem a Cristo (vv. 9,11). Quando João fala de
ódio, transmite a idéia de algo habitual, que caracteriza um estilo de
vida, um estado no qual a pessoa vive. Esse estado pode resultar em
homicídio (3.11-15; 4.20,21).
Em relação ao pecado, os princípios da graça são mais profundos que as exigências da lei.
Jesus exemplificou este ensinamento de diversas formas em seu conhecido
“Sermão do Monte” (Mt 5.17-48). A lei condena o homicídio; a graça se
antecipa ao expor a força motriz do homicídio – o ódio. É seguindo esta
linha de pensamento que João afirma ser homicida qualquer que aborrece
ao seu irmão (1 Jo 3.15). Assim, pelos padrões cristãos, não é
necessário chegar a matar para ser considerado um homicida. O ódio faz
parte da galeria dos pecados que levam o homem à morte espiritual
(5.16). Contra este pecado, ou a fim de preveni-lo, só há um remédio: o
amor. Por outro lado, aquele que ama a seu irmão, permanece na luz e
nele não há tropeço (v. 10). Se quisermos permanecer na luz, devemos
amar uns aos outros assim como Cristo nos amou.
III. A DEMONSTRAÇÃO COMUNITÁRIA DO AMOR
João deixa claro que o amor precisa ser materializado através de ações
que o demonstrem (vv.16-18). Isso aponta para a necessidade de a igreja
ser conclamada a exercer o amor cristão. Fala também, como já vimos,
nos tópicos anteriores, da importância de enfatizar o mandamento do
amor.
O primeiro motivo para demonstrarmos o amor. A
mensagem desta carta também nos edifica pelo fato de nos lembrar quem
somos em contraste com o nosso estado anterior (vv.14,16). A vida do
crente em Jesus necessita ser nutrida por devida gratidão a Deus pela
obra substitutiva de Cristo na cruz. Esta obra vicária não só garante o
perdão, como limpa o homem de toda a iniqüidade (ls 53.5,6,11; Rm 4.7). A
falta desse reconhecimento torna-nos incrédulos, mesmo que venhamos a
dizer que somos piedosos (Rm 1.21; 2 Tm 3.1-5).
O desenvolvimento progressivo do amor. Conforme já foi
dito, quando João estabelece um tempo específico, devemos levar em
conta que a expressão “desde o princípio” se refere ao começo de suas
vidas espirituais (3.11). À medida que o homem recebe a luz do
evangelho, as trevas vão sendo dissipadas, e ele passa a amar aos seus
irmãos. Com o passar do tempo e sendo constantemente exercitado, tal
amor tende a ser cada vez mais intenso e visível (Rm 12.9,10; 13.8,10;
Fp 1.9).
A necessidade do ensino sobre o amor cristão. O
apóstolo, ao mesmo tempo em que fundamenta seu ensino na instrução que
os irmãos já haviam recebido, aponta para a responsabilidade com que os
primeiros crentes conduziram o discipulado
da Igreja Primitiva, formando discípulos embasados em valores éticos e bíblicos, dos quais o amor é a mola mestra (3.14).
CONCLUSÃO
Os que pregam e ensinam precisam motivar a igreja a buscar esses valores
e se aperfeiçoar em todos os aspectos (Cl 3.12-17). Foi nesta
perspectiva que o Senhor Jesus iniciou a formação dos seus discípulos
(Mt 5.43-48), e assim devemos viver. (www.apazdosenhor.org.br)
Por Cons. Elder Pereira |
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