Poucas doutrinas das Escrituras são tão mal entendidas e conseqüentemente tão abusadas e pervertidas quanto essas duas doutrinas, mas a Escrituras as apresentam numa simplicidade relativa; se tal é o caso, por que então elas são tão mal entendidas e abusadas? A verdade é que essas doutrinas atacam a própria raiz do orgulho e vaidade do homem, e quando são entendidas e aceitas de modo correto, não deixam absolutamente nenhum espaço para o homem se regozijar ou se orgulhar em seus próprios feitos e realizações. Por esse motivo, o homem em seu orgulho e vaidade natural as rejeita, ou as modifica tanto a ponto de torná-las aceitáveis à sua mente orgulhosa.
Acerca da eleição, Abraham Booth disse:
Mas qual é a razão desse protesto contra a eleição? Se é que não
estou muito enganado, dá para compreender esse protesto da seguinte
forma. Essa doutrina põe o machado na raiz de toda excelência moral da
qual nos gloriamos. Essa doutrina, em suas conseqüências naturais,
demole todo subterfúgio do orgulho humano; já que não deixa nenhuma
sombra de diferença entre um homem e outro, o motivo por que Deus
deveria estimar e salvar esta pessoa, em vez daquela; mas ensina todos
os que sabem e todos os que a adotam a descansar naquela máxima
memorável; SIM, Ó PAI, PORQUE ASSIM TE APROUVE; reduzindo o assunto todo
a graça divina e a soberania divina. — The Reign of Grace (O Reinado da
Graça), p. 56. American Baptist Public¬ation Society, Philadelphia, sem
data.
Um pregador idoso, amigo deste escritor, que desde então partiu
para o Senhor, certa vez comentou que uma pessoa tinha de se converter
para toda doutrina da Bíblia antes de realmente as aceitar, e em nenhuma
doutrina é esse fato tão verdadeiro quanto no caso que estamos agora
tratando. Este escritor passou por um longo período de conflito interno
antes de chegar a aceitar essa doutrina; ele não tinha nenhuma
pré-disposição para crer nela; aliás, ele estava inteiramente firme em
sua oposição a ela, mas ele orava continuamente para que o Senhor lhe
desse sabedoria e entendimento nas coisas espirituais, e o resultado foi
esse. Até hoje, o orgulho carnal ainda se rebela contra essa doutrina,
mas o espírito foi levado a se regozijar nela, achando nela grande
consolo e segurança. É por causa desse grande conflito interno que o
escritor não se envolve em argumentos e debates com aqueles que não
crêem nessas doutrinas, pois ele crê que elas não são doutrinas que se
pode aprender meramente com a sabedoria carnal, mas são doutrinas às
quais devemos nos converter, e as quais só dá para aceitar pela graça.
Tentar enfiar a Bíblia goela abaixo de outro crente raramente faz mais
do que firmá-lo em sua oposição à doutrina proposta com tanto zelo. Isso
não quer dizer que não podemos nos engajar em debate quieto e amistoso
acerca dessas doutrinas ou outras da Palavra; isso podemos e devemos
fazer, mas a qualquer momento que o debate vai além de amizade e
tranqüilidade, é hora de terminá-lo, pois depois desse ponto não poderá
haver proveito algum para nenhuma das duas pessoas.
Alguns rejeitam as doutrinas dos decretos de Deus completamente,
dizendo que não seria justo no caráter de Deus oferecer decretos
predeterminados quanto ao que virá a ocorrer no tempo. Contudo, Charles
H. Spurgeon, num sermão sobre Efésios 1:5, respondeu bem a essa questão
ao dizer:
É ao mesmo tempo uma doutrina das Escrituras e do bom senso, que
tudo o que Deus faz no tempo ele predestinou fazer na eternidade. Alguns
homens criticam a predestinação divina, e desafiam a justiça dos
decretos eternos. Ora, se eles quiserem se lembrar de que a
predestinação é o pano de fundo da história, como um plano de
arquitetura, a execução do qual lemos nos fatos que acontecem, podem
talvez obter uma leve pista para a irracionalidade de sua hostilidade.
Nunca ouvi ninguém entre os mestres de forma maliciosa e deliberada
criticar o modo como Deus trata suas criaturas humanas, mas ouvi alguns
que nem mesmo ousariam colocar em dúvida a justiça de Seus conselhos. Se
a coisa em si é certa, tem de ser certo que Deus tencionou fazer a
coisa; se você não tem motivo para criticar os fatos, conforme você os
vê na providência, você não tem base alguma para se queixar dos
decretos, à medida que os acha na predestinação, pois os decretos e os
fatos são apenas as semelhanças um do outro. Você tem algum motivo para
criticar a Deus, que ele quis salvar você, e salvar a mim? Então por que
você deveria criticar, pois as Escrituras dizem que ele predeterminou
que ele nos salvaria? Não vejo, se o fato em si é compatível, o motivo
por que o decreto deveria ser condenável. Não consigo ver razão alguma
por que você deveria criticar a predestinação de Deus, se você não
criticar o que realmente acontece como efeito dela. Que as pessoas
apenas concordem em reconhecer um ato da providência, e quero saber como
elas poderão, a não ser que se oponham descaradamente à providência,
criticar a predestinação ou intenção que Deus fez com relação à
providência. — Metropolitan Tabernacle Pulpit (Púlpito do Tabernáculo
Metropolitano), p. 97. Pilgrim Publication, reimpressão, Pasadena,
Texas, 1969.
De novo, de modo geral não é proveitoso pregar essa doutrina para
pessoas perdidas, pois muitas delas estão procurando uma desculpa para
continuar no pecado, e a perspectiva fatalista de “se vou ser salvo,
serei não importa o que eu faça”, será rapidamente adotada, e a
responsabilidade humana será removida imediatamente. Mas essa mesma
coisa se aplica a muitas doutrinas amplamente diferentes das Escrituras,
pois a pessoa perdida tem pouca compreensão espiritual, e muitas vezes
usará os ensinos doutrinários como escudo ou defesa para continuar em
sua maldade. Este escritor sabe de um exemplo em que a pregação do dever
do dízimo para um homem não salvo foi utilizada como desculpa para não
ser salvo, pois o homem perdido se isentava com a alegação de que “O
pregador só estava interessado em conseguir mais dinheiro na igreja de
modo que pudesse obter um aumento de salário”. Esse mesmo tipo de
desculpa poderia ilustrar outros casos com relação a outras doutrinas
também, de modo que quando dizemos que não é geralmente prudente pregar a
predestinação e eleição para os perdidos, não queremos dizer isso com a
exceção de outras doutrinas, mas só que a pessoa perdida tem
necessidade de que apenas o evangelho lhe seja pregado. Tal indivíduo
tem essa necessidade com quase qualquer outro assunto. J. M. Pendleton
bem sabiamente diz que:
Deus começa com a eleição, mas o homem não pode. Ele deve começar
com o chamado, e quando confirmado o seu chamado, confirma-se a
eleição. O chamado é a única prova real da eleição. Portanto, veremos
que o cerne da eleição é, nas mãos de um pecador, a mais difícil de
todas as questões. A razão é que a eleição, não é da conta dele, e a
nada que ele pode fazer com ela. — Christian Doctrines (Doutrinas
Cristãs), p. 112. American Baptist Publication Society, Philadelphia,
1878.
Ao estudar essas doutrinas, deve-se reconhecer que essas
doutrinas são bem profundas, quase impenetráveis, e por esse motivo, só
podemos nos apegar aos ensinos das Escrituras, e não ousamos ir além
deles, pois em nada a mente humana é menos preparada para raciocinar do
que ao lidar com as doutrinas da predestinação e eleição. Alguns usam
esse próprio fato como desculpa para rejeitar essas doutrinas, como se
jamais devêssemos aceitar qualquer coisa que não estejamos em condições
de compreender plenamente; outros, não encontrando um jeito de
reconciliar a soberania de Deus com a responsabilidade humana nesse
assunto, escolheram repudiar a eleição soberana de Deus. Mas isso é
deixar de entender completamente o ponto; pois se entendemos, ou se
podemos reconciliar esses dois fatos, de modo algum determina a verdade
dos dois; mas, precisamos deixar Deus ser Deus, e Lhe dar crédito por
saber algumas coisas que nem sabemos nem entendemos. Reconciliar as
Escrituras não é algo que compete a nós; o que nos compete é
simplesmente aprendê-las e crer nelas. Na verdade, a reconciliação é
necessária apenas entre inimigos, e as Escrituras não estão em inimizade
consigo. O Dr. Richard Fuller, ao falar da predestinação e livre
agência, bem disse que:
Mostrei que é impossível rejeitarmos uma dessas duas grandes
verdades, e é igualmente impossível nossas mentes as reconciliarem. Mas
aí, como em toda parte, a fé tem de vir ao nosso auxílio, ensinando-nos a
descansar, sem duvidar, na veracidade de Deus; fazendo-nos lembrar que
“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus”; e repreendendo a
arrogância que exige que nosso intelecto penetre e reconcilie aqueles
pensamentos da mente divina que estão tão acima de nossos pensamentos
como os céus estão acima da terra. — Sermons, Second Series (Sermões,
Segunda Série), p. 19. American Baptist Publication Society,
Philadelphia, 1877.
Charles H. Spurgeon, num sermão sobre 2 Tessalonicenses 2:13 14, semelhantemente diz dessa doutrina:
Não está aqui nas Escrituras? E não é teu dever se prostrar
diante delas, e humildemente reconhecer o que tu não entendes —
recebendo-as como a verdade ainda que não entendas seu sentido? Não
tentarei provar a justiça de Deus ao ter assim eleito uns e deixado
outros. Não me cabe justificar meu Mestre. Ele falará por Si, ele assim o
faz: — “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a
coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem
o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para
honra e outro para desonra?” — The New Park Street Pulpit (O Púlpito da
Nova Rua Parque), Vol. I, p. 316. Zondervan Publishing House,
reimpressão, Grand Rapids, Michigan, 1963.
Como seria tolo esperarmos que numa xícara de chá caiba o oceano,
assim também seria tolo esperarmos poder entender inteiramente as
grandes obras e propósitos do Todo-poderoso, e é apenas jactância imensa
que fará da nossa própria ignorância a base para rejeitar o que as
Escrituras apresentam como a verdade.
Espero lidar com esse assunto de um modo que não seja exaustivo,
quero apenas observar três coisas principais acerca dessa doutrina, e
confiar que o Espírito de Deus guiará nosso entendimento na verdade à
medida que estudarmos.
I. A DEFINIÇÃO DE ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO.
Ambas dessas doutrinas serão consideradas juntas, pois muitas
vezes se trata a eleição como um ramo da predestinação, e em outras
vezes como equivalente à predestinação. O Dr. John Gill diz acerca
dessas duas doutrinas:
Os decretos especiais de Deus com respeito às criaturas racionais
comumente levam o nome de predestinação; embora se entenda isso num
sentido amplo, para expressar toda coisa que Deus predeterminou…mas
geralmente se considera a predestinação como consistindo de duas partes,
e inclusive os dois ramos da eleição e reprovação, ambos com respeito a
anjos e homens… Embora às vezes a predestinação tenha a ver apenas com
esse ramo dela chamado eleição, e os predestinados significam apenas os
eleitos. — Body of Divinity (Corpo da Divindade), Book II, capítulo 2,
p. 176. Turner Lassetter, Atlanta, Georgia, 1950.
Considerando a partir desse ponto de vista negativo, deve-se
observar que há muitas concepções erradas acerca dessa doutrina, e não
será incorreto notar algumas delas de passagem.
(1) Alguns sustentam que a eleição é apenas para vocação, mas
enquanto é verdade que às vezes se declare a eleição para a vocação ou
um ofício, porém muitas vezes isso é uma conseqüência que se origina a
partir de uma eleição para a vida eterna, em vez da própria eleição.
“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei,
para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (João 15:16).
Aqui, é óbvio que a ordenação para ser frutífero é algo separado da
eleição, embora necessariamente a pressuponha, e se origine dela.
(2) Outros sustentam que a eleição é unicamente um ato do homem:
que, nas palavras de alguém: “Deus lança um voto em favor de vida eterna
para você, e Satanás lança um voto contra, e o homem deve lançar o voto
de decisão, quebrando assim o empate, e se elegendo”. As Escrituras que
acabamos de citar, bem como muitas outras, definitivamente negam essa
teoria; aliás, no que se refere à salvação, nunca se diz que o homem faz
a eleição ou escolha; é um ato que é sempre estabelecido pelo Senhor.
Se, como sustenta essa teoria, fosse o homem que fizesse a escolha, o
povo de Deus não seria chamado de “os eleitos” — os escolhidos —, mas
seria chamado de “os eleitores”. É estranho o modo como muitas vezes o
homem, por suas próprias interpretações das Escrituras, faça parecer que
o Senhor não sabe como dizer o que Ele quer dizer, e como se não se
pudesse assim aceitar as Escrituras em seu sentido mais óbvio.
(3) Uma terceira concepção errada acerca da eleição, que sempre
se baseia numa opinião distorcida dela, é que se é verdade que os homens
são eleitos para a salvação, então jamais devemos pregar o evangelho
para ninguém, nem nos esforçarmos de forma alguma para ver almas salvas,
já que só Deus faz a eleição. Muitos que não crêem na eleição a
distorcerão desse jeito a fim de ter um bode-expiatório, e alguns até
daqueles que afirmam crer nela a distorcerão a fim de desculpar sua
negligência, mas o dever dos cristãos de apresentarem o evangelho aos
perdidos é de modo algum afetado pela eleição, desde que não há como
conhecer o eleito a não ser pela sua resposta ao evangelho. Nosso dever é
ser testemunhas de Jesus Cristo — apresentar o evangelho; a eleição
para a vida eterna foi tratada numa eternidade passada, e será manifesta
pelo Espírito aplicando a verdade salvadora à alma eleita a fim de
regenerá-la e fazer com que confie no Salvador. Ainda que o homem não
pudesse saber que os decretos de eleição de Deus eram tais que
impediriam qualquer pessoa de chegar a se salvar, ou, por outro lado,
fizessem com que toda alma perdida fosse salva, não afetaria minimamente
o mandamento do Senhor para Seu povo de ser testemunhas fiéis de Sua
verdade salvadora. O que Deus faz ou não faz não tem efeito algum em
nossa responsabilidade de dar testemunho fiel acerca dEle.
(4) Ainda outros sustentam que na medida que essa doutrina é
misteriosa, que não deveria pois ser pregada nem ensinada de forma
alguma. Mas não é bem assim, pois não se pode ignorar nenhuma doutrina
das Escrituras sem incorrer culpa séria diante de Deus; é necessário que
os santos sejam informados da fonte e causa de sua salvação, para que
em seu orgulho e prepotência não tentem tomar para si essa glória que
pertence somente ao Senhor.
O que então é a eleição? A palavra significa simplesmente
“escolher” e se refere à escolha eterna de homens indignos de ser os
objetos da obra salvadora do Senhor no tempo. “Como também nos elegeu
nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:4). As definições
seguintes poderão nos ajudar a entender as doutrinas da predestinação e
eleição.
A eleição é o ato eterno de Deus, pelo qual em Sua vontade
soberana, e por causa de nenhum mérito antevisto neles, ele escolhe
certos homens pecadores para receber a graça especial de Seu Espírito, e
assim se tornarem participantes voluntários da salvação de Cristo. — A.
H. Strong, Systematic Theology (Teologia Sistemática) p. 779. Fleming
H. Revell Company, 1954.
Falando de predestinação, o Dr. J. M. Pendleton diz:
A predestinação abrange o propósito da eleição, e também,
conforme será mostrado, o propósito da “reprovação”, como tem sido
chamada, que, como bem se disse: “nada mais é do que negar a alguns a
graça que é transmitida a outros” (Hill’s Divinity [A Divindade do
Hill], p. 561) Pode-se expressar esses dois propósitos assim: “Que Deus
escolheu em Cristo certas pessoas da raça caída de Adão, antes da
fundação do mundo, para a glória eterna, de acordo com Seu próprio
propósito e graça, sem relação com a fé e obras antevistas deles, ou
quaisquer condições que eles tenham cumprido”; e que Ele negou ao resto
da humanidade Sua graça e os entregou à desonra, e o justo castigo de
seus pecados. — Christian Doctrines (Doutrinas Cristãs), p. 105.
Ameri¬can Baptist Publication Society, Philadelphia, 1878.
As Escrituras apresentam essa doutrina, não só com a terminologia
de “eleição”, mas também sob os termos de “escolher”, “ordenar”,
“designar”, “determinar”, “destinar” e “constituir”, pois essa doutrina
envolve a determinação soberana de Deus de exercer tais dons e graças em
homens caídos específicos a fim de fazer com que certamente venham a
conhecer a salvação de Seu Filho. Por causa do caráter dos propósitos do
Senhor, essa realização é sempre atribuída totalmente a Deus, e jamais
ao homem. Nenhuma obra, mérito ou fé humana, ou real ou antevista, pode
chegar a entrar na determinação desse assunto. Isso é óbvio a partir de
Romanos 9:11: “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem
ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme,
não por causa das obras, mas por aquele que chama)”. Ao se referir aos
filhos que não haviam nascido, nem tinham feito nada de bom ou mau, e
então ao se referir aos propósitos de Deus de acordo com a posição de
eleição, mostra-se claramente que uma presciência de atos, mérito ou fé
humana jamais entra no assunto, pois se entrasse, aí seria o lugar
lógico para se fazer menção, mas o silêncio reina de modo supremo nesse
exemplo.
Muitos sustentam uma eleição condicional — condicionada em alguma
resposta humana, geralmente fé. Aliás, alguns pregadores mudaram a
declaração das velhas confissões bíblicas de fé que quase todos os
batistas costumavam sustentar de que “somos eleitos para Sua graça”, e
deixaram seu texto assim: Somos “por condição eleitos para essa graça”.
Isso soa bom para a mente orgulhosa e humanista do homem! Mas o fato das
Escrituras é que, na gramática grega, existe apenas um tempo
condicional, e a palavra “eleito” JAMAIS é nesse tempo.
E outro fato interessante que refuta a teoria acima acerca da
eleição condicional é que em toda vez que aparece no Novo Testamento a
palavra grega traduzida “eleito” ou “escolher”, quando Deus está fazendo
a eleição, o verbo está na voz média. Isso é muito significativo,
conforme mostra W. W. Goodwin.
Na voz média o sujeito é representado como agindo em si mesmo, ou
de algum modo que tem a ver consigo. 1. Como agindo em si mesmo… 2.
Como agindo por si mesmo ou com referência a si mesmo… 3. Como agindo
num objeto que pertença a si mesmo. — A Greek Grammar (Gramática Grega),
Section 1242, p. 267. Ginn & Company, Boston, 1892.
Por isso, NÃO DÁ para achar a causa da eleição no sujeito, assim
escolhido, mas é devido totalmente por causa da determinação dAquele que
faz a escolha. NÃO HÁ NADA NOS ELEITOS QUE MOVA DEUS A ESCOLHER ALGUM
DELES, É TOTALMENTE DA GRAÇA.
A eleição, que se declara claramente ser eterna — isto é, antes
que o tempo, o mundo, ou o homem tivessem vindo a existir. A única
alternativa daqueles que determinaram não aceitar a soberania absoluta
de Deus nesse assunto é baseá-la no mérito antevisto de algum tipo no
homem, tal como fé, bondade ou utilidade; mas Romanos 9:11, citado
acima, bem como o fato de que a fé, e aliás, “toda a boa dádiva”, se
declara ser dádiva de Deus, anula essa teoria, e deixa a eleição ainda
um ato soberano de Deus sem explicação a partir do lado humano do
assunto. Será que Deus não tem o mesmo direito que nós temos, de exigir
para si e escolher quem serão Seus amigos e parceiros a vida inteira? Se
alguém tentar cobrar que Deus tem de lidar do mesmo jeito e grau com
toda a humanidade, ele imediatamente se deparará com todos os tipos de
dificuldades, pois Deus exige o direito soberano de fazer com quem é
dEle conforme Ele quiser, como o dono da casa na parábola em Mateus
20:15: “Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o
teu olho porque eu sou bom?” Se alguém chega a ser salvo, é mais do que
merecimento, e se ninguém chegar a ser salvo, não haveria base alguma
para queixa, pois todos merecem apenas o inferno. Em nenhuma outra
esfera o homem raciocina de modo tão incoerente como na questão da
eleição. Por exemplo, se o governador de um estado perdoa um presidiário
da prisão estadual, ninguém imediatamente começa a gritar que a fim de
ser justo, ele tem de perdoar todos os outros presidiários igualmente
culpados. Todos compreendem que perdoar um criminoso é um ato de graça e
misericórdia, não de justiça, e que direitos e merecimento nada têm a
ver com isso; mas os propósitos de eleição de Deus são exatamente
paralelos a isso.
Temos de nos lembrar de que a eleição é totalmente de Deus, que
foi realizada na eternidade passada, que é para a salvação, e que inclui
todos os meios necessários para cumprir a salvação, como está escrito:
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor,
por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em
santificação do Espírito, e fé da verdade; Para o que pelo nosso
evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus
Cristo” (2 Tessalonicenses 2:13 14). Não resta assim nenhum espaço para o
louvor do homem e suas obras ou atitudes, mas toda a glória é devida a
Deus.
II. A ELEIÇÃO EM DETALHES.
Conforme já dissemos, a eleição é um ato totalmente de Deus, e o
homem não tem parte nesse ato, como declaram com clareza as seguintes
passagens: “E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se
salvaria; mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles
dias” (Marcos 13:20). Essa é a primeira vez em que aparece no Novo
Testamento a palavra grega eklegomai (eklektous ous exelexato), e
enfatiza o fato de que é a escolha de Deus que constitui certas pessoas
como eleitas. Não importa que essa referência tenha a ver com o período
da Grande Tribulação, nem (como as objeções de alguns) que essa
referência tenha a ver só com os judeus (o que não é verdade, pois
embora inclua os eleitos de Israel, não está limitada a eles, mas
abrange todos os eleitos que estavam vivendo na terra naquela época).
Prova que os homens são eleitos por causa da escolha de Deus, não do
homem. “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que
fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:4).
Outra vez é provada que Deus faz a escolha, mas se revela um fato
adicional: não fomos escolhidos por causa de alguma santidade pessoal,
mas em vez disso fomos escolhidos para essa condição, isto é, essa
condição se origina da eleição de Deus. “Sabendo, amados irmãos, que a
vossa eleição é de Deus” (1 Tessalonicenses 1:4). De novo, a eleição é
ato de Deus.
A eleição é também atribuída a Cristo nas seguintes passagens:
“Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido” (João 13:18).
É óbvio que a referência não é à eleição para serviço, pois Judas
Iscariotes havia sido escolhido para serviço, mas ele nunca foi salvo, e
assim não poderia ter sido eleito para salvação. “Não me escolhestes
vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome
pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda… Se vós fôsseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi
do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” (João 15:16,19). Observe
nesses últimos versículos que: (1) Cristo expressamente nega que o homem
fez a escolha. (2) Que essa escolha não foi “para serviço”, como muitos
afirmam que a eleição é, pois o serviço é algo que é em acréscimo à, e
se origina da, eleição. (3) Essa eleição coloca os santos numa classe
diferente do mundo. (4) O mundo odeia os santos porque eles foram
eleitos por Cristo.
É verdade que um homem pode escolher servir a Deus, (Josué
24:15), mas tal escolha jamais se chama eleição, pois a eleição é sempre
um ato divino quando tem relação com a salvação, que é geralmente o
caso no Novo Testamento. A escolha dos homens de servir a Deus não
significa nada quanto à sua eleição para a salvação, pois Judas
Iscariotes havia escolhido, por suas próprias razões, seguir Cristo e,
até certo ponto, servir a Deus, mas somos expressamente informados de
que ele nunca foi salvo. Portanto, ele não era um dos eleitos.
Não só é declarada que a eleição é de Deus, mas que é também “em
Cristo”, conforme está escrito: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos
lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da
fundação do mundo…” (Efésios 1:3-4). Com isso se quer dizer que todos os
eleitos são englobados no Filho de Deus, e são aceitos diante do Pai
apenas por causa dEle: “Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos
fez agradáveis a si no Amado” (Efésios 1:6). É inteiramente natural
para os homens orgulhosos e egoístas buscarem, em algum lugar em si
mesmo, a causa de sua aceitação diante de Deus — em suas obras, ou em
sua fé, ou talvez em seu serviço potencial ao Senhor, mas tal não é a
fonte da aceitação de homem algum diante do Senhor, pois se fosse, o
homem só teria segurança na mesma medida da sua fidelidade contínua ao
Senhor. Mas pelo fato de que “somos agradáveis no Amado”, e não por
causa de qualquer coisa em nós mesmos, temos eterna segurança, e jamais
poderemos nos perder; nossa aceitação se baseia nos méritos gloriosos de
Jesus Cristo, e jamais poderão falhar enquanto Ele mantiver Seu caráter
santo e imaculado. O próprio Jesus Cristo teria primeiro de pecar,
antes que pudéssemos chegar a nos perder, e isso, é claro, é um assunto
além das possibilidades. Portanto, a salvação de todo verdadeiro filho
de Deus está eternamente resolvida e segura.
A eleição é pessoal, tratando com indivíduos; é verdade que
Israel era uma nação escolhida, conforme está escrito: “Por amor de meu
servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome”,
(Isaías 45:4), mas de longe a maioria das referências à eleição e aos
eleitos trata não com a nação de Israel, mas em vez disso com os santos
individuais de Deus. Alguns declararam que nunca se menciona eleição
como tendo a ver com salvação, mas é sempre em referência a Israel como
nação eleita, ou caso contrário é uma eleição para serviço. Só dá para
explicar essa declaração por ignorância ou preconceito, pois as
Escrituras declaram: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós,
irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para
a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2
Tessalonicenses 2:13). “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas
para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo” (1
Tessalonicenses 5:9). “E creram todos quantos estavam ordenados para a
vida eterna” (Atos 13:48). E há numerosas outras passagens que, de forma
explícita ou implícita, declaram que a salvação é o resultado direto da
eleição.
Isso nos leva a observar outra coisa acerca da eleição, a qual os
oponentes da doutrina bíblica da eleição ou não percebem ou então
ignoram. A eleição não é a mesma coisa que a salvação. Os oponentes
muitas vezes tentam fazer a doutrina parecer absurda dizendo: “Então
você crê que os eleitos foram salvos desde a eternidade passada?” A
eleição é para a salvação, pois a eleição ocorre na eternidade passada,
mas um homem só é salvo depois de nascer de novo, e as primeiras
evidências desse novo nascimento são arrependimento e fé. A eleição é
aquela determinação de Deus conduzir o homem as circunstâncias e debaixo
de influências que certamente farão com que ele seja salvo.
A eleição de Deus é um assunto individual, exatamente como o modo
como Deus trata os homens é individual; os homens não são salvos em
grupo, e nem são eleitos em grupo. Num versículo os santos de Deus são
chamados “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo
adquirido”, (1 Pedro 2:9), mas eles são na maioria das vezes citados em
termos que frisam a eleição individual que o Senhor faz de cada um.
A eleição também se baseia na presciência de Deus, pois está
escrito: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos” (Romanos 8:29). Tragicamente, há uma profunda
ignorância dessa palavra “presciência” e sua aplicação. Caso contrário,
há muitas vezes uma perversão absoluta desse texto a fim de se evitar
seu ensino óbvio. Antes de lidar com esse texto, talvez seja bom ler
também 1 Pedro 1:2, e lidar com ambos de uma só vez: “Eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo”.
Essa perversão de Romanos 8:29 e 1 Pedro 1:2 é feita por homens
que declaram que essa é uma presciência da fé dos homens — que Deus
elege os homens porque Ele antevê que eles crerão em Jesus Cristo. Mas
por que Deus deveria elegê-los se Ele vê que eles vão crer de qualquer
forma? Será que Ele é como muitos moderninhos que primeiro observam para
ver de que jeito as coisas vão indo, então pulam na primeira tendência
da moda que aparece de modo que pareça que eles estão de acordo com todo
mundo? Dificilmente: É óbvio que essa não é uma interpretação que esses
textos produzirão, a partir do fato de que essa presciência não é “o
que” — isto é, sua fé, obras, atitude ou serviço potencial — mas é de
“quem” — isto é, uma presciência de suas pessoas. De novo, não poderia
ser de suas obras ou fé, pois isso faria com que Romanos 8:29 entrasse
em conflito com 1 Pedro 1:2, onde se revela que a fé é conseqüência
natural e resultado da eleição, pois Deus elege “para a obediência”, e 2
Tessalonicenses 2:13, onde os homens são escolhidos “para a salvação,
em santificação do Espírito, e fé da verdade”. Em ambos os exemplos,
revela-se que a obediência e a fé são conseqüência natural e resultado
da escolha soberana de Deus, e não a causa dela. Veja também Atos 13:48,
onde se apresenta a mesma coisa. Os homens dizem que Deus anteviu que
os homens creriam, mas as Escrituras em parte alguma dizem isso; pelo
contrário, o que Deus viu quando Ele olhou do céu foi descrença,
desobediência e rebelião universal, conforme está escrito: “Deus olhou
desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que
tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente
se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um” (Salmo
53:2-3). Isso resolve esse assunto para todos os que estão sujeitos à
Palavra de Deus. Deus não elegeu os homens porque Ele anteviu que eles
creriam, mas Ele os elegeu porque Ele anteviu que a menos que Eles os
elegesse, e oferecesse os meios para conduzi-los à salvação, ninguém
chegaria a ser salvo.
Ora, se essa presciência não é da fé deles, então a que isso se
refere? Em 1 Pedro 1:20, essa mesma palavra grega que é traduzida
“presciência” em 1 Pedro 1:2, é traduzida em 1 Pedro 1:20 “em outro
tempo foi conhecido”. Acerca disso o Dr. B. H. Carroll diz:
Conforme Pedro declara a eleição, perguntamos: o que é? Significa
escolhidos para a salvação. Quem elege? Deus o Pai. Ele elege de acordo
com quê? De acordo com sua presciência. O que Ele quer dizer com
presciência? A palavra grega é “prognosis:” “nosis” significa
conhecimento, e “pro” (o “g” significa eufonia) quer dizer antes, ou
presciência, e essa palavra é um substantivo usado apenas por Pedro no
Novo Testamento. Ele o usa três vezes, conforme o seguinte: Atos 2:23; a
passagem aí, 1 Pedro 1:2, e em 1 Pedro 1:20. Esses são os únicos
lugares no Novo Testamento em que temos a palavra “prognosis,”
presciência, que significa conhecer de antemão. Mas tanto Pedro quanto
Paulo usam o verbo “prognosco,” que significa conhecer de antemão… Paulo
usa a palavra em referência ao conhecimento de antemão que Deus tem de
seu povo, e todas as outras vezes que Pedro fala do conhecimento de
antemão de Deus. Ora, então a pergunta é: O que significa conhecer de
antemão?… O uso de presciência no Novo Testamento era exatamente
equivalente à predestinação. Qualquer estudioso da língua grega lhe
diria isso. A eleição não se baseava em alguma bondade antevista no
homem ou em algum arrependimento ou fé no homem, mas o arrependimento e a
fé procedem da eleição, e não vice-versa. De modo que o que Paulo quer
dizer com presciência é praticamente a mesma coisa que a predestinação;
que na eternidade Deus determinou e elegeu de acordo com essa
predestinação. — An Interpretation of the English Bible (Uma
Interpretação da Bíblia em Inglês), Vol. 16, pp. 188 189. Broadman
Press, Nashville, Tennessee, 1947.
Obviamente “conhecer antes” envolve mais do que mera presciência
nessas passagens, pois em Atos 2:23 a presciência de Deus fez mais do
que meramente conhecer de antemão a crucificação de Cristo, mas era
realmente parte da força de entrega nela: “A este que vos foi entregue
pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes,
crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. O outro uso dessa
palavra em 1 Pedro 1:20, onde se traduz “conhecido antes” revela essa
mesma coisa, isto é, que essa palavra envolve não só presciência de um
fato, mas também a execução de um fato. A presciência de Deus é pois
equivalente ao ato de Ele decretar esse fato. Sua predestinação é o
cumprimento de todos os eventos que têm a ver com as vidas de Seus
eleitos. Portanto, como disse alguém, a eleição tem a ver com pessoas,
enquanto a predestinação tem a ver com eventos.
Muitas vezes se usa a palavra “propósito” para denotar a firme
decisão ou determinação da mente de buscar um objeto específico. Mas não
seria sábio um Ser onisciente tornar qualquer coisa uma finalidade de
ação, a menos que se saiba que dá para alcançá-la; e, se sabe que dá
para alcançar, tem de se saber também os meios e o modo de obtenção.
Assim, o propósito de Deus, abrangendo tanto finalidade quanto meios,
tem de abranger tudo o que ele determinou fazer ou permitir. — Alvah
Hovey, Manual of Systematic Theology (Manual de Teologia Sistemática),
p. 96. Ameri¬can Baptist Publication Society, Philadelphia, 1880.
Não só isso, mas enquanto todos sabemos o que significa “antes”
quando adicionado a “conhecer”, muitos não consideraram o uso bíblico da
palavra “conhecer”, mas presumiram que só se refere à consciência
mental de algo. O primeiro uso de “conhecer” nas Escrituras mostra que
se refere a entrar numa íntima união de amor com outro (veja Gênesis
4:1). Esse é o mesmo uso no primeiro uso de “conhecer” no Novo
Testamento em Mateus 1:25. Maria também usou essa palavra na mesma forma
em Lucas 1:34. É verdade que essa palavra foi usada nessas passagens
referindo-se a uma união física, mas ilustra o uso espiritual, como o
físico faz em muitos exemplos. Assim, ao “conhecer antes” certas
pessoas, Deus estava simplesmente entrando numa íntima relação
espiritual de amor com elas em Cristo, o representante delas, como em
Efésios 1:3 4. Essa presciência de Deus o Pai equivale em sentido quanto
ao que se declara de Israel em Jeremias 31:3. “Há muito [ou na
eternidade passada] que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com
amor eterno te amei [ou, te escolhi para mim mesmo], por isso com
benignidade te atraí [ou, chamado eficaz]”. Deus tomou a iniciativa com
relação à redenção do homem antes que o homem até viesse a existir, e
assim, independente de alguma fé real ou possível, obras ou mérito de
qualquer tipo. É graça, pura graça, SOBERANA GRAÇA.
A fim de interpretar corretamente a Palavra de Deus, precisamos
considerar todas as vezes que uma palavra ou frase aparece, e
interpretar cada uma em harmonia com todas as outras; mas se fizermos
isso, então não podemos tomar qualquer um dos cognatos dessa palavra
“conhecer [antes]”, isolá-la dos outros usos, e dar-lhe um sentido
diferente dos outros. Assim, não dá para forçar o termo “dantes
conhecer” em Romanos 8:29 a se referir a uma presciência passiva das
ações do homem no tempo, quando as formas do substantivo e do verbo
dessa palavra em outros lugares mostram que envolve uma força ativa que
realiza o fato assim “dantes conhecido”. Parece óbvio para este escritor
que a palavra grega traduzida “dantes conheceu” em Romanos 8:29 tem a
força de “entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus” como
na verdade a mesma palavra é traduzida em Atos 2:23, e a maioria dos
grandes teólogos batistas do passado tinha esse consenso.
A eleição não se baseia em alguma obra ou ato humano, real ou
previsto, mas em vez disso é soberana, conforme está escrito: “Pois diz a
Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de
quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer,
nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Romanos 9:15-16). E de
novo: “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente,
segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de
outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não
é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra” (Romanos 11:5-6). E
ainda de novo: “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são
muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os
nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo
para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo
para confundir as fortes; E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e
as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; Para que
nenhuma carne se glorie perante ele” (1 Coríntios 1:26-29).
O homem foi criado e existe para um propósito supremo — para que
Deus seja nele glorificado, e Deus jamais tolera nada que vá além
daquilo que contribui para Sua glória, pois está escrito: “Certamente a
cólera do homem redundará em teu louvor; o restante da cólera tu o
restringirás” (Salmos 76:10). Isso explica o motivo por que a eleição é
soberana, e o motivo por que Deus lida com o homem em graça — é para que
a glória possa ser toda dEle; e isso explica também o motivo por que a
doutrina da eleição é tão desagradável ao paladar do homem — não lhe
deixa espaço algum para se gloriar em si mesmo. Assim as Escrituras
declaram que a vontade e os propósitos de Deus são os fatores
determinantes de Sua relação com o homem: “E nos predestinou para filhos
de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua
vontade, Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez
agradáveis a si no Amado… Descobrindo-nos o mistério da sua vontade,
segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, De tornar a
congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos
tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; Nele,
digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados,
conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho
da sua vontade” (Efésios 1:5-6, 9-11).
A rebeldia do homem em aceitar a doutrina da eleição resume-se a
apenas uma coisa — ele está indisposto que Deus seja soberano nesse
assunto. Ao reconhecer a soberania absoluta de Deus, não teremos
problemas com a doutrina da eleição, nem com nenhum dos temas
relacionados, pois se Deus tem o direito soberano de fazer com Sua
criação conforme bem quiser, e se Ele não pode agir de modo injusto,
então tudo o que Ele faz será certo, quer nós seres humanos mortais
consigamos ou não entender as razões para Suas ações. Nem mesmo a
doutrina da reprovação nos afligirá ao reconhecermos a justiça e
soberania de Deus. No entanto, muitos inflam a reprovação (ou rejeição,
como também é chamada) para proporções desnecessárias, não percebem sua
conexão com o pecado do homem e tornam decreto arbitrário enviar alguns
para o inferno sem relação com a descrença disposta do homem. J. M.
Pendleton bem diz:
Se se diz que a eleição de alguns é a rejeição de outros, pode-se
comentar: A Rejeição é um termo desnecessariamente forte, e é
preferível dizer que Deus deixou outros como estavam. A doutrina da
eleição os deixa onde eles estariam se não houvesse eleição alguma.
Nenhuma injustiça lhes é feita. A verdade é, a eleição não é injustiça
para ninguém, embora seja uma bênção inexpressável para alguns. É
preciso uma multidão que nenhum homem pode contar do meio da raça caída
de Adão, mas Deus pode contá-los e elevá-los à esperança e céu. —
Christian Doctrines (Doutrinas Cristãs), pp. 106 107. American Baptist
Publication Society, Philadelphia, 1878.
Alguns, em ignorância abjeta, afirmam às vezes que essa doutrina
ensina que Deus arbitrariamente manda todos os não eleitos para o
inferno “sem uma chance” e exclusivamente como um ato de soberania, mas
tal idéia ignora os fatos (1) Que ninguém vai para o inferno exceto por
pecado real e pessoal, e assim todo indivíduo no inferno estará ali por
justiça. (2) Que nenhum homem vai para o inferno exceto depois de uma
vida inteira de pecado, incredulidade e rejeição ao único remédio para o
pecado. (3) Que nenhum incrédulo pode saber de sua eleição ou sua não
eleição até o fim da vida, e enquanto há vida ele não só tem a
oportunidade de se arrepender e se salvar, mas também convites nesses
sentido lhe são oferecidos. Séculos atrás, João Bunyan escreveu sobre a
Reprovação:
Tenho de lembrá-lo novamente acerca desses detalhes: 1. Que a
reprovação eterna não torna um homem pecador. 2. Que a presciência de
Deus, que os reprovados perecerão, não torna nenhum homem pecador. 3.
Que a infalível determinação de Deus para a condenação daquele que
perece não torna homem algum pecador. 4. A paciência, a longanimidade e a
moderação, até que o reprovado se prepare para a destruição eterna, não
tornam nenhum homem pecador. — The Doctrine of Election And
Reprobation, in The Complete Works Of John Bunyan (A Doutrina da Eleição
e Reprovação, nas Obras Completas de John Bunyan), Vol. II, p. 285.
National Foundation For Christian Educat¬ion, reimpressão, Marshallton,
Delaware, 1968.
Nenhum homem tem o direito de falar contra o modo como Deus se
relaciona com o homem, qualquer que seja tal relação, e é somente
mediante a presunção e prepotência blasfema que alguém ousa agir desse
jeito. “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a
coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem
o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para
honra e outro para desonra?” (Romanos 9:20-21). Portanto, que nenhum
homem orgulhoso desafie o modo como Deus se relaciona com o homem, mas
em vez disso que ele se regozije no fato de que Deus escolheu alguns do
mundo para serem Seus escolhidos, e que o homem confie no Senhor Jesus
para obter a salvação de sua alma para que ele possa ter a certeza de
que está incluído entre os escolhidos, e agora humildemente se regozijar
nessa eleição.
De novo, que se observe que a eleição inclui todos os meios
necessários para a chamada dos eleitos entre o restante do mundo.
Aqueles que não crêem nessa doutrina muitas vezes acusam aqueles que
crêem de incoerência porque pregam o evangelho e se esforçam para obter a
salvação das almas dos homens; ao agirem desse jeito, eles traem sua
ignorância, ou então são culpados de propositalmente mal-representar a
verdade, pois todos os que verdadeiramente entendem e crêem nessa
doutrina também crêem que Deus não só escolheu certas pessoas para serem
somente dEle na eternidade, mas que Ele também ordenou os meios para
levá-las ao arrependimento e fé no tempo. Referindo-se a Romanos 8:30, o
Dr. J. M. Pendleton diz:
Nesse versículo temos, se é que podemos assim chamar, uma
corrente de ouro de quatro elos, e essa corrente alcança de eternidade a
eternidade. O primeiro elo é a predestinação, e o último é a
glorificação, enquanto os dois elos no meio são chamado e justificação. O
primeiro elo não tem conexão alguma com o último, exceto mediante os
elos intermediários. Isto é, não há jeito de o propósito de Deus na
predestinação poder alcançar sua finalidade na glorificação, se o
chamado e a justificação não ocorrerem. Mas o chamado e a justificação
são inseparáveis de “a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus
Cristo” (Atos 20:21). O arrependimento e a fé, então, sem mencionar
outras coisas, são meios mediante os quais se realiza o propósito de
Deus na eleição. Portanto, Deus, ao predestinar a salvação para seu
povo, predestinou o arrependimento deles, e a fé e todos os outros meios
necessários para a salvação deles. — Christian Doctrines (Doutrinas
Cristãs), pp. 110 111. American Baptist Publication Society,
Philadelphia, 1878.
Se nos perguntassem o motivo por que temos de pregar o evangelho
se Deus escolheu os homens para a salvação, deixamos Paulo responder:
“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor,
por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em
santificação do Espírito, e fé da verdade; Para o que pelo nosso
evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus
Cristo” (2 Tessalonicenses 2:13-14). Se nos perguntassem de modo
faccioso o motivo por que então não pregamos somente aos eleitos,
respondemos primeiramente que não podemos saber antecipadamente quem são
eles, a não ser pela reação deles ao evangelho, mas ainda que
pudéssemos saber antecipadamente quem são eles, isso em nada nos
aliviaria do dever de “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura” (Marcos 16:15). Quantos eleitos há, e quem são, de modo algum
afeta nossa responsabilidade de proclamar fielmente a todo o mundo o
evangelho da graça salvadora de Deus; é responsabilidade de Deus
chamá-los através do evangelho que pregamos. O evangelho tem um de dois
resultados quando é pregado: justificação ou juízo; assim, Paulo diz:
“Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos
que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas
para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é
idôneo?” (2 Coríntios 2:15-16). A pregação do evangelho torna mais ainda
os homens responsáveis de prestar contas a Deus por sua incredulidade e
rejeição.
III. A DETERMINAÇÃO DA ELEIÇÃO.
Muitas vezes se faz a pergunta: “Como uma pessoa pode saber que
ela pertence aos eleitos?” O que todos temos de compreender é que
enquanto nosso Senhor disse: “Mas, não vos alegreis porque se vos
sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes
escritos nos céus”, Lucas 10:20, mas não temos jeito algum de subir até o
céu e contemplar aquele maravilhoso e glorioso Livro da Vida do
Cordeiro, em que estão inscritos todos os santos de todas as épocas. Mas
se esse é o caso, como então se pode saber que ele pertence aos
eleitos? Não simplesmente porque ele é membro de uma igreja, pois isso
nada prova, como revela o caso de Judas Iscariotes; e um homem não pode
saber que ele é dos eleitos porque ouviu a pregação do evangelho e
sentiu a convicção da Palavra, pois Mateus 20:16 declara que “muitos são
chamados, mas poucos escolhidos”. O chamado do evangelho mexe com
muitos corações que nunca são transformados e nunca são vivificados pelo
Espírito Santo, e assim o número dos eleitos é muito menor do que o
número dos que sentiram a convicção e ouviram um chamado de receber o
Salvador.
Quando consideramos as referências aos homens sendo chamados em
Romanos 8:30: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que
chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também
glorificou”, e 1 Coríntios 1:23 24: “Mas nós pregamos a Cristo
crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.
Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a
Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus”, e 2 Tessalonicenses 2:14:
“Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória
de nosso Senhor Jesus Cristo”, e outras passagens, então se torna óbvio
que além do chamado normal, que vem mediante a pregação, e que muitas
vezes é mais ineficaz do que não, há outro chamado que é sempre apenas
para os eleitos, e sempre resulta em justificação, e finalmente se
completará na glorificação. Esse último chamado é o que os teólogos do
passado chamavam de chamado eficaz, enquanto o primeiro chamado é
conhecido como o chamado geral; a menos que se faça essa distinção, o
resultado será muita confusão, e parecerá que os propósitos de Deus
muitas vezes falham na realização. O chamado eficaz, porém, não falha,
sendo idêntico com regeneração, de modo que qualquer pessoa nasce de
novo quando esse chamado lhe vem. Esse chamado é co-extensivo com o
número daqueles que são justificados e glorificados, pois não há quebra
entre eles, nem diminuição nem aumento no número de pessoas entre o
chamado, a justificação e a glorificação em Romanos 8:30. Note a
correlação entre “aos que” e “estes” aparecendo três vezes.
Ninguém tem a garantia de sua eleição, exceto ao se submeter ao
chamado do evangelho e se arrepender de seus pecados e confiar na obra
expiatória do Senhor Jesus Cristo, pois essas coisas são as primeiras
evidências da eleição de alguém, como está escrito: “… e creram todos
quantos estavam ordenados para a vida eterna” (Atos 13:48). Esse
versículo sofre enorme violência por parte daqueles que não crêem na
eleição soberana de Deus, alguns tentando tornar a ordenação para a vida
subseqüente ao ato de crer, e outros desafiando o sentido da palavra
traduzida “ordenado”.
Quanto à primeira dessas duas reações a esse versículo, temos só
de citar as palavras do Dr. A. T. Robertson, cuja autoridade como
estudioso grego é inquestionável, pois ele é conhecido e reconhecido
como um dos grandes estudiosos gregos da geração passada. Ele diz:
Não há nenhum tipo de truque que possa fazer significar que
aqueles que creram foram depois ordenados. Foi a fé salvadora que foi
exercitada somente por aqueles que foram ordenados para a vida eterna,
aqueles classificados para a vida eterna, que foram assim revelados como
alvos da graça de Deus pela posição que tomaram para o Senhor neste
dia. — Word Pictures In The New Testament (Retratos da Palavra no Novo
Testamento), Vol. III, pp. 200 201. Broadman Press, Nashville, Tenn.,
1930.
A única ordem correta dessa sentença é com ordenação à vida
eterna indo antes, e sendo a causa da fé que se estava exercendo. Quanto
à segunda reação a esse versículo — o desafio do sentido da palavra
traduzida “ordenado” — alguns dizem que se deve lhe atribuir um sentido
reflexivo: “se dispuseram para a vida eterna”. Não somos informados
acerca do motivo por que essa palavra tem de receber tal atribuição, a
menos que seja forçada a concordar com a idéia de antemão deles. É
suficiente responder que essa palavra (grego tasso) jamais sustenta tal
sentido no Novo Testamento conforme manifestará um estudo de todas as
vezes que essa palavra aparece; (veja Mateus 28:16; Lucas 7:8; Atos
13:48; 15:2; 22:10; 28:23; Romanos 13:1; 1 Coríntios 16:15). Só no
último exemplo a ação da sentença chega a ser reflexiva, e é reflexiva
apenas porque o pronome reflexivo eatous a exige. O próprio verbo jamais
é reflexivo, e tentar forçá-lo a ser mostra uma indisposição de se
aceitar o sentido claro do verbo original.
Além dos mais, se torna ainda mais óbvio que a Versão do Rei
James traduz essa palavra de modo correto quando consideramos que quase
todos os tradutores do Novo Testamento reconhecem esse como o sentido
verdadeiro dessa palavra, e assim a traduzem. É interessante notar que
os homens muitas vezes lidam de modo bem negligente com as Escrituras
quando fazem comentários sobre elas, muitas vezes tentando forçar suas
próprias crenças nelas, mas quando eles as estão traduzindo, eles são
mais prudentes, e parecem temer lidar com elas do mesmo modo sacrílego
que lidam em seus comentários. Das mais de trinta versões que este
escritor consultou, apenas duas traduziram essa palavra de modo
diferente de “ordenar”, “nomear”, “destinado”, “escolhido”, e palavras
de importância semelhante. Uma dessas duas é a Versão do Novo Mundo (das
testemunhas-de-jeová), que é bem conhecida por sua falta de
confiabilidade. A outra versão é a Bíblia Viva, que se reconhece como
paráfrase, e não uma tradução, mas até mesmo essa versão, embora use a
palavra “desejaram” no texto, dá, no rodapé, o sentido de “arranjados
para” ou “ordenados para”. O sentido passivo mostra com clareza que a
disposição não era do homem, e assim deve ter sido de Deus, pois Satanás
certamente jamais tentaria determinar ninguém para a vida eterna.
Cremos que esses fatos acerca de Atos 13:48 falam por si mesmos.
Que o homem não tenha o poder intrínseco de crer, e que ele tem
de pertencer ao número dos eleitos antes que possa crer no evangelho, é
óbvio a partir de João 10:26: “Mas vós não credes porque não sois das
minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito”. Essa é uma declaração
difícil, mas não temos a liberdade de rejeitá-la simplesmente porque não
podemos entendê-la, pois não é o único versículo que ensina essa
verdade profunda, pois João 6:44 45 também declara: “Ninguém pode vir a
mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no
último dia. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus.
Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”. Se o Pai
não atrair uma pessoa, e lhe der o poder da fé, então esse indivíduo não
pode se salvar; assim, toda a glória da salvação pertence ao Senhor e
somente a Ele.
Do ponto de vista humano, determina-se a eleição pela vida que
alguém vive, e por esse motivo só é possível sabermos com certeza nesta
vida mediante o exemplo de uma vida de santidade. Paulo disse acerca dos
tessalonicenses: “Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de
Deus”, 1 Tessalonicenses 1:4, mas como ele sabia disso? Ele próprio dá a
resposta no versículo precedente: “Lembrando-nos sem cessar da obra da
vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança em nosso
Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai” (versículo 3). Quando
compreendemos que os homens são eleitos para a fé e obediência, e não
por causa destas, (2 Tessalonicenses 2:13; Atos 13:48; 1 Pedro 1:2),
então compreendemos que onde as vemos, há evidência de eleição. Na
salvação somos criados “em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas”, (Efésios 2:10), de modo que
uma vida constante em boas obras é evidência de que alguém foi salvo, e
conseqüentemente de que é uma pessoa eleita.
A eleição é uma doutrina misteriosa, mas maravilhosa; é uma
doutrina que, embora não deixe espaço para o orgulho e vaidade, é porém
uma grande bênção para o homem, pois garante a salvação de cada um dos
eleitos de Deus. Alguns repudiam a doutrina da eleição, dizendo que
mostra ser respeitadora de homens, mas deixa alguns sem esperança de
salvação. A verdade é que ninguém pode saber se ele pertence aos eleitos
ou não eleitos, exceto crendo ou então morrendo sem arrependimento, o
que coloca a questão toda no nível da fé ou falta de fé do indivíduo.
Observe o que Jesus diz acerca disso: “Todo o que o Pai me dá virá a
mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37).
Aí aprendemos: (1) Que só aqueles que foram dados a Cristo no pacto da
redenção virão a Ele. Isso se refere, é claro, à eleição. (2) Todos
aqueles que foram assim dados virão a Cristo. A salvação de todos os
eleitos é assegurada pelo chamado eficaz e a atração deles. Essa é graça
eficaz ou irresistível. (3) Que embora essas coisas sejam gloriosamente
assim, há porém também a esperança para todos os que se achegam a
Cristo em fé serão por Ele recebidos. Assim, enfatiza-se a
responsabilidade humana, de modo que ninguém pode culpar a Deus por
qualquer homem que se perde. Já que ele não pode saber de antemão acerca
de sua não eleição, e já que se oferece a promessa de aceitação a todos
os que se achegam, o homem perdido se perde exclusivamente por causa de
sua própria incredulidade da promessa de Deus.
Nosso chamado e eleição podem ser afirmados — afirmados para nós e
para outros homens, pois Deus já os conhece, sendo obra dEle. Assim diz
Pedro: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa
vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis” (2
Pedro 1:10). As coisas às quais se refere Pedro, que tornam firmes o
chamado e eleição de alguém, são aquelas boas obras que se esperam de
toda pessoa que verdadeiramente nasceu de novo, e que manifestam que ele
é verdadeiramente salvo. Elas são boas obras que se originam da fé
(veja os versículos 5 9).
A eleição, sendo obra de Deus, e sem causa humana, glorifica a
Deus enquanto ao mesmo tempo humilha o homem, e essa é a razão principal
por que é tão desagradável ao paladar do homem. Quando nos lembramos da
declaração de Paulo de que, “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não
consigo realizar o bem”, (Romanos 7:18), então temos de reconhecer que
quase qualquer coisa que humilhe o orgulho carnal, enquanto glorifica a
Deus, pode ser presumida como verdadeira. Nada de bom jamais teve sua
origem na carne, e nada de ruim (nada verdadeiramente ruim à luz dos
propósitos de Deus) jamais procede de Deus.
Autor: Pr Davis W. Huckabee
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br
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