No
vigésimo terceiro ano do ministério difícil de Jeremias, Deus lhe disse para
falar mais uma vez à nação. “Arrancar”
e “derribar”
caracterizava a mensagem do profeta desde o começo (Jeremias 1:10). Esta
mensagem não tinha que ser diferente. A nação tinha recusado atender às
advertências e o dia da destruição se aproximava.
“Assim
diz o Senhor: Põe-te no átrio da
Casa do Senhor e dize a todas as
cidades de Judá, que vêm adorar à Casa do Senhor,
todas as palavras que eu te mando lhes digas; não omitas nem uma palavra sequer”
(Jeremias 26:2).
A
antiga e santa glória que caracterizava o templo nos dias de Salomão tinha-se
obscurecido até o ponto de se apagar. Aqui por um breve momento a verdade da
palavra de Deus falada por um humilde servo eclipsou os tenebrosos atos
praticados dentro de suas paredes. A obra do profeta foi difícil, mas simples:
levantar-se e falar. Difícil porque, como Deus havia prometido a Jeremias vinte
e três anos antes, haveria oposição à sua mensagem. Simples no que Deus lhe
daria em palavras para falar. A mensagem simples era: “Se
não me derdes ouvidos para andardes na minha lei... farei desta cidade maldição”
(Jeremias 26:4-6).
Jeremias
não tinha entrado na obra de sua vida sem grande relutância. “Eis
que não sei falar; porque não passo de uma criança” (Jeremias
1:6), ele apresentou-se quando por Deus foi chamado. Deus assegurou-o fazendo
esta promessa: “Não temas diante deles;
porque eu sou contigo para te livrar, diz
o Senhor” (Jeremias
1:8). Agora, depois de muitos anos de devoção e fidelidade, Jeremias mais uma
vez se levantou diante das faces duras e testas de pedra. Sua tarefa como
profeta de Deus era levantar-se e falar. A verdade nunca encontra sua expressão
verdadeira, se sussurrada em voz baixa nos cantos ou nos vãos. A falsidade é
arrogante e ousada e assim aqueles que têm a verdade precisam levantar-se e
falar.
Deus
esclareceu a Jeremias o que ele queria que fosse falado. “...
todas as palavras que eu te mando lhes digas; não omitas nem uma palavra sequer”
(Jeremias 26:2). A verdade se torna fraca e ineficaz quando é diluída
pelo homem. Nenhuma árvore é abatida pelo madeireiro que empunha uma
motosserra sem a serra. A mensagem inexperiente, sem dentes, contendo verdades
parciais pode agradar e consolar os ouvintes, porém não tem força para mudar
seus corações.
Uma
pesada responsabilidade se assenta firmemente sobre os ombros daquele que
proclama a verdade. E quanto ao ouvinte? O Senhor disse a Jeremias, “Bem
pode ser que ouçam e se convertam cada um do seu mau caminho; então, me
arrependerei do mal que intento fazer-lhes por causa da maldade das suas ações”
(Jeremias 26:3).
“Bem
pode ser" expressa esperança e
possibilidade. Deus não força a pessoa a obedecer a sua palavra. Ele espera em
antecipação. "Bem pode ser”
que me ouçam desta vez. Ainda que a nação, como um todo, rejeitasse a palavra
de Deus ainda havia alguns corações maleáveis encorajados pela mensagem de
Jeremias. A mensagem tão clara e ousadamente proclamada deve ter penetrado nos
corações de alguns, talvez até mesmo de Daniel e de seus três amigos que
muito brevemente seriam arrebatados de sua pátria para nunca mais retornar.
Inspirados pela palavra de Deus e o exemplo deste servo corajoso e fiel, estes e
outros seriam capazes de manter sua fé durante as provações do cativeiro.
Deus
intensifica seu otimismo dizendo: “Talvez todos me ouçam e deixem seus maus
caminhos”. A proclamação repetida da verdade sem resultados aparentes freqüentemente
produz desânimo, ressentimento e um coração amargurado. Isso desapontou Deus;
seu povo não o ouviu e não se voltou. Séculos mais tarde, Jesus chorou pelo
povo quando, vendo a cidade de Jerusalém, bradou, “Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas
vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha junta os seus pintinhos
debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mateus 23:37).
Mas otimismo mantido vivo é a dádiva do proclamador de verdade. Não podemos
macular nossa mensagem com pessimismo; desapontamento profundamente sentido por
amor, sim, porém não pessimismo. Afinal, é “boa nova” que traz promessa
de bons resultados.
“Dize-lhes,
pois: Assim diz o Senhor: Se não
me derdes ouvidos para andardes na minha lei, que pus diante de vós, para que
ouvísseis as palavras dos meus servos, os profetas, que, começando de
madrugada, vos envio, posto que até aqui não me ouvistes, então farei que
esta casa seja como Siló, e farei desta cidade maldição para todas as nações
da terra” (Jeremias 26:4-6).
A
responsabilidade de Jeremias era levantar-se e falar, a do povo era ouvir. Se o
povo desse ouvidos à sua palavra, Deus se compadeceria, se não, ele faria da
cidade deles uma maldição. O tempo estava se esgotando para Judá. Em menos de
dois anos Nabucodonozor entraria pelas portas da cidade e assumiria o domínio
da nação. Na profecia de Ezequiel fica bastante claro que Deus não encontra
prazer em condenar os ímpios. Antes, ele diz, “Convertei-vos,
e desviai-vos de todas as vossas transgressões; e a iniqüidade não vos servirá
de tropeço. Lançai de vós todas as vossas transgressões com que
transgredistes e criai em vós coração novo e espírito novo; pois, por que
morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tenho prazer na morte de ninguém,
diz o Senhor Deus. Portanto,
convertei-vos e vivei” (Ezequiel 18:30-32).
Numa
mensagem semelhante dita por Jeremias, Deus disse, “Mas
ide agora ao meu lugar, que estava em Siló, onde, no princípio, fiz habitar o
meu nome, e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo de Israel” (Jeremias
7:12). A referência a fazer “esta casa como Siló” retorna a outro tempo
tenebroso na história do povo de Deus. Ele o exortou a que se lembrasse da
confiança colocada em lugar errado, que uma geração anterior tinha posto na
arca da aliança. Naqueles dias os filhos de Eli fizeram o povo do Senhor
transgredir (1 Samuel 2:24). Ameaçados por hordas de filisteus incircuncisos,
os pecadores filhos de Israel convocaram a arca da aliança para o campo de
batalha, pensando que ela asseguraria sua vitória. Foi um dia triste, Israel
foi vencido e a arca de Deus foi capturada. Como as pessoas nos dias de Eli, os
ouvintes de Jeremias eram culpados de ouvir as palavras falsas, “Templo
do Senhor, templo do Senhor...”
(Jeremias 7:4), acreditando que uma cidade contendo o templo de Deus
certamente seria poupada de uma invasão por uma nação estrangeira. Contudo,
Deus não se compadeceria se eles recusassem converter-se de seus maus caminhos.
Quando
os sacerdotes, os profetas e o povo ouviram a mensagem de Jeremias, eles o
pegaram dizendo: “Serás morto” (Jeremias
26:8). Quando os príncipes de Judá ouviram estas coisas, vieram e ouviram a
mensagem de Jeremias (Jeremias 26:10, 11). Eles disseram: “Este
homem não é réu de morte, porque falou em nome do Senhor,
nosso Deus, nos falou” (Jeremias 26:16).
Ao
arrazoarem o caso de Jeremias, os príncipes de Judá apelaram para o caso do
profeta Miquéias e do rei Ezequias. Miquéias exortou o povo de Deus a se
arrepender. Ezequias não matou Miquéias mas ouviu-o e Deus se compadeceu
quanto à sua condenação (Jeremias 26:19). Aqueles que pensavam que Jeremias
seria morto por sua suposta blasfêmia contra o templo de Deus, levaram o caso
do profeta Urias às autoridades. Urias profetizara contra a cidade e a terra,
como Jeremias tinha feito. Jeoaquim perseguiu o profeta, que tinha fugido para o
Egito, e o matou (Jeremias 26:20-23). Aqueles que acreditavam que Jeremias não
era digno de morte prevaleceram e ele foi poupado (Jeremias 26:24).
As reações
à verdade variam amplamente hoje. Alguns ouviram aqueles que se levantam e
falam a verdade e deitarão fora seus maus caminhos. Outros, endurecidos pela ação
enganosa do pecado, teimarão e clamarão pela saída do mensageiro. Nossa
responsabilidade é clara. Se estivermos falando a verdade, temos que ser
ousados e destemidos e nos recusarmos a diluir a palavra de Deus. Se estivermos
ouvindo a verdade, temos que examinar-nos e converter-nos de nossos maus
caminhos. O cristianismo não é para os fracos de coração.
Que
Deus nos conceda a coragem para conquistar o prêmio.
–por
Karl Hennecke
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