Pela graça de Deus, vimos nos capítulos anteriores deste livro, o que é
a salvação de Deus. Este é o sexto capítulo. Espero fazer uma breve
revisão do que tratamos nos cinco capítulos anteriores e, então,
continuaremos. Vimos o pecado, a lei, o amor de Deus, Sua graça e Sua
justiça. Vimos como o homem se tornou pecador e como a lei veio expor os
pecados do homem. Vimos também que
embora esteja provado que o homem é pecador, Deus ainda o ama. Deus não
somente nos amou, mas Ele também nos mostrou misericórdia e graça. Vimos
também que a graça de Deus se manifestou, qual é a natureza dessa
graça, como ela ocorreu e que ela nunca pode ser misturada com esforço
humano. No capítulo A Justiça de Deus, vimos que, apesar do amor de Deus
e de Seu desejo de nos dar graça, havia um obstáculo para a vinda da
graça até nós. Se uma única coisa ficasse sem ser tratada, a graça de
Deus não poderia ter vindo até nós. Embora a graça esteja, agora aqui,
para prevalecer, ela predomina apenas pela justiça (Rm 5:21). A graça
não pode prevalecer por si só. Assim, o Senhor nos mostrou como a
justiça foi manifestada. Sua justiça lidou com nossos pecados. Ao mesmo
tempo, ela nos capacita a receber graça de Deus. Vimos isso nos
capítulos anteriores. Agora, prosseguiremos com o evangelho de Deus e
Sua salvação.
Mencionamos como a salvação realizada por Deus
por intermédio do Senhor Jesus manifestou a graça de Deus. Ao mesmo
tempo, ela satisfez as justas exigências de Deus. Agora, enfocaremos a
obra do Senhor Jesus. Esse assunto é excelente e doce. Ele trata da
maneira pela qual o Senhor Jesus cumpriu a salvação de Deus. Vimos como o
Senhor Jesus satisfez a exigência de Deus e como Ele manifestou a graça
de Deus. Ao mesmo tempo, precisamos ver como o Senhor Jesus satisfaz o
coração do cristão a fim de que também possamos ser satisfeitos com Sua
obra. Como diz um hino que cantamos: “O coração de Deus está satisfeito
com a obra do Senhor Jesus, e nosso coração também descansa com Sua
obra”. Deus está satisfeito e nós estamos satisfeitos. Se o tempo
permitir, espero poder tratar desses dois aspectos.
O Senhor Jesus é Deus e Homem para o Cumprimento da Redenção
A primeira coisa que temos de ver é que o Senhor Jesus é Deus. Podemos
dizer que somente Deus pode levar o pecado do homem. Nunca considere o
Senhor Jesus como uma terceira pessoa vindo para sofrer uma morte
substituta. Não pense que Deus seja uma parte, nós outra parte e o
Senhor Jesus a terceira parte. A Bíblia nunca considera o Senhor Jesus
como uma terceira parte. Pelo contrário, ela O considera como a primeira
parte. Podem ter-lhe dito que o evangelho é comparado a um devedor, um
credor e o filho do credor. O devedor não tem dinheiro para quitar seu
débito; o credor, sendo muito severo, insiste no pagamento. Mas o filho
do credor se prontifica a pagar o débito em lugar do devedor e o devedor
fica livre.
Esse é o evangelho que o homem prega hoje. Mas não
é o verdadeiro evangelho. Se esse fosse o caso, pelo menos dois pontos
não seriam corretos e seriam contrários à Bíblia. Primeiro, esse tipo de
entendimento mostra Deus como o malvado, e o Senhor Jesus o bondoso. Em
tal ilustração, não vemos Deus amando o mundo. Antes, vemos apenas Sua
justa exigência e a exigência da lei. Vemos um Deus severo, Alguém sem a
graça e cujas palavras para o homem são sempre ásperas; e vemos que é o
Senhor Jesus quem nos ama e nos dá graça. Esse evangelho está errado.
Contudo, embora seja um evangelho errado, Deus ainda o usa. Na verdade,
eu mesmo fui salvo por esse tipo de ilustração. Mas embora fosse salvo,
nos três primeiros anos, nunca consegui louvar a Deus. Eu sempre sentia
que o Senhor Jesus era bom, que deveria agradecer-Lhe e louvá-Lo, que
sem Ele tudo era sem esperança e que foi uma felicidade Ele ter vindo.
Mas eu sentia que Deus era muito severo, bravo e mau. Ele não era tão
amável. Parecia que todas as coisas boas estavam com o Senhor Jesus e
todas as ruins estavam com Deus, parecia que Deus era terrível e o
Senhor Jesus, amável.
Mas isso não é a Bíblia. A Bíblia diz que
Deus amou o mundo de tal maneira que nos deu Seu Filho (Jo 3:16). Deus
enviou Seu Filho porque nos amou. Eis por que fomos levados de volta a
Deus após o Senhor Jesus ter cumprido Sua obra na cruz. Se Deus não nos
tivesse amado e não nos tivesse enviado o Senhor Jesus, o máximo que o
Senhor Jesus poderia ter feito era levar as pessoas de volta a Si mesmo;
Ele não poderia levar as pessoas de volta a Deus. Graças ao Senhor
porque quem nos amou foi Deus. Agradecemos-Lhe porque foi o próprio Deus
quem enviou Seu Filho a nós. O Pai é quem foi movido por compaixão. O
Pai é quem nos amou. Foi o Pai quem planejou a salvação. Foi o Pai quem
teve uma vontade na eternidade passada. Primeiramente, o Pai propôs
todas as coisas e, então, o Filho veio. Assim, é errado o homem pensar
que há três partes. Há somente duas partes: Deus e o homem. O Senhor
Jesus é a dádiva de Deus ao homem. Contudo, essa dádiva é algo vivo e
com uma vontade, não sem vida e sem vontade. Graças a Deus porque a
salvação é algo entre Deus e o homem. O Senhor Jesus é uma dádiva. Hoje,
é a Deus que devemos voltar-nos. Nós nos achegamos a Deus por meio do
Senhor Jesus. Essa é a primeira coisa que temos de perceber.
Segundo, se houvesse três partes, o Senhor Jesus não teria sido
qualificado a morrer por nós. É verdade que quando o Senhor Jesus morreu
por nós, a justiça de Deus foi cumprida e os pecados humanos foram
perdoados. Mas foi justo para o Senhor Jesus? Suponha que tenhamos dois
irmãos aqui. Suponha que um dos irmãos tenha cometido um crime capital e
tenha sido condenado à morte. O outro irmão quis muito morrer por ele
e, por isso, foi executado em seu lugar. Ele é inocente, e também uma
terceira parte. Agora, ele morre em lugar do outro. A Bíblia nunca nos
mostra que o Senhor Jesus morreu por nós deste modo. Ela nunca nos
mostra que Deus tinha uma exigência, que Sua lei tinha de ser satisfeita
e que para que o homem cumprisse a exigência da lei, o Senhor Jesus
veio para cumprir a lei de Deus. Não há tal coisa. Que posição o Senhor
Jesus tomou quando Ele veio cumprir a redenção? Temos de considerar essa
questão cuidadosa e precisamente conforme a Bíblia.
Gostaria
que vocês estivessem cientes de uma coisa. O mundo pensa que há apenas
um modo de lidar com o problema do pecado. Os pregadores que pregam
ensinamentos errados dizem que há três maneiras de lidar com o pecado.
Mas para Deus há somente dois modos de lidar com o pecado. Alguma
explicação se faz necessária aqui. Antes de ler a Palavra de Deus,
alguém pode pensar que um desses três modos pode resolver o problema: o
homem pode resolvê-lo, Deus pode resolvê-lo ou uma terceira parte também
pode resolvê-lo por substituição. Os que não são salvos, que não
conhecem a Deus, consideram que há apenas uma solução: que é o homem
quem deve resolver o problema por si mesmo. Mas a justiça de Deus
mostra-nos que há somente dois modos de resolver o problema: Um é pelo
próprio Deus e o outro é pelo próprio homem. Que quero dizer com isso?
Vamos primeiro considerar o que o homem pensa. Ele pensa que é pecador e
deve, portanto, sofrer o julgamento do pecado e da ira de Deus. Ele
pensa que deveria perecer e ir para a perdição. A única maneira é ele
resolver o problema por si mesmo, indo para o inferno. Ele se
responsabilizará pelo que fez. Se alguém peca, vai para o inferno e
sofre julgamento do pecado. Essa é uma maneira de resolver o problema.
Quando alguém deve dinheiro, ele vende tudo o que tem. Ele pode até
mesmo ter de vender sua esposa, filhos, casa e terra, se isso for
necessário para resolver o problema. Isso é justo. Então, há outro
conceito errado. Para os que ouviram o evangelho, há a consideração de
que o Senhor Jesus é a terceira parte vindo tomar nosso lugar e resolver
o problema do nosso pecado. O homem pecou e incorreu no julgamento do
pecado. Agora, todo o julgamento está sobre o Senhor Jesus; Ele sofre
todo o julgamento. Tal ensinamento parece correto. Mas vocês verão
resumidamente que ele não é exato.
Primeiramente direi uma
palavra para os que têm conceitos obscuros. Na Bíblia, há duas
importantes doutrinas, que são: levar os pecados e o resgate pelos
pecados. Por favor, não pensem que não creio na substituição. Mas a
substituição sobre a qual alguns falam não é a substituição na Bíblia,
porque é um tipo de substituição que envolve injustiça. Se o Jesus
imaculado deve ser um substituto para nós, homens pecadores, é claro que
isso nos é um bom negócio. Mas é justo tratar o Senhor Jesus dessa
maneira? Ele não pecou. Por que Ele deveria ser morto? Esse não é o tipo
de substituição que a Bíblia fala. Se o Senhor Jesus veio morrer em
lugar de todos os pecadores do mundo, então os que crêem em Jesus, assim
como os que não crêem Nele, serão igualmente salvos. O Senhor morreu
por ambos, quer creiam ou não. Não se pode voltar atrás e revogar a
morte do Senhor apenas porque alguns não crêem. Pode-se voltar atrás em
outras coisas. Mas isso não é algo reversível. Por que a Bíblia diz que
os que não crêem foram julgados e perecerão? (Jo 3:16,18). A razão é que
o Filho de Deus teve apenas uma morte substitutiva por nós os que
cremos. Ele não é um substituto para os que não crêem.
Qual,
então, é a maneira de resolver o problema do pecado de acordo com a
Bíblia? Há somente duas maneiras justas para resolver o problema. Uma é
tratar com quem pecou e a outra é tratar com aquele contra quem se
pecou. Há apenas duas partes que são qualificadas para lidar com esse
problema. Há apenas duas pessoas no mundo que têm o direito de tratar
com o problema do pecado. Uma é aquela que pecou contra outra. A outra é
aquela contra quem se pecou. Quando uma pessoa processa outra num
tribunal, nenhuma outra parte tem o direito de dizer coisa alguma. No
proceder do tribunal, somente os dois envolvidos têm o direito de falar.
A respeito da salvação do pecador, se ele mesmo não cuida disso, então
Deus o faz por ele. O pecador é a parte pecaminosa e Deus é a parte
contra quem se pecou. Ambos podem lidar com o problema do pecado da
maneira mais justa. Do lado do pecador, é justo que ele sofra o
julgamento e a punição, pereça e vá para a perdição. Mas há uma outra
maneira que é igualmente justa: a parte contra quem se pecou pode
assumir a punição. Isso pode ser totalmente inconcebível para nós, mas é
um fato. É a parte contra quem se pecou que suporta os pecados. Não é
uma terceira parte que leva nossos pecados. Uma terceira pessoa não tem
autoridade ou direito de intervir. Se uma terceira pessoa intervier, é
injustiça. Somente quando a parte contra quem se pecou está disposta a
sofrer a perda, é que o problema pode ser solucionado. Visto que Deus
tem amor e também tem justiça, Ele não permitiria que um pecador
carregasse os próprios pecados, pois isso significaria que Deus é justo,
mas sem amor. A única alternativa é a parte contra quem se pecou
carregá-los. Somente por Deus suportar nossos pecados é que a justiça
será mantida.
Você sabe o que significa o perdão? No mundo, nós
temos perdão. Entre pessoas, há perdão. Entre um governo e seu povo
também há perdão. Até entre nações há perdão. Entre Deus e o homem
também há perdão. O perdão é algo universalmente reconhecido como um
fato. Ninguém pode dizer que o perdão seja algo injusto. É algo que
alguém concede alegremente ao outro. Mas a questão é: quem tem o direito
de perdoar? Se um irmão me roubou dez dólares, e eu o perdôo, isso
significa que eu tenho de suportar a conseqüência do seu pecado. Eu
assumi a perda desses dez dólares. Também como outro exemplo, digamos
que você me bateu no rosto. A força foi tanta que sangrou. Se eu disser
que o perdôo, significa que você comete o pecado de bater e eu sofro a
conseqüência do golpe. O pecado foi cometido por você, mas eu sofro a
conseqüência dele. Isso é perdão. Perdoar significa que alguém peca e
outro sofre a conseqüência desse pecado. Perdão é assumir a
responsabilidade da parte pecadora pela parte contra quem se pecou. Uma
terceira parte não tem o direito de intervir para perdoar. Ela não pode
interferir na retribuição. Se uma terceira parte intervém para perdoar e
para retribuir, isso é injustiça. Se o Senhor Jesus interferisse como
uma terceira parte para substituir o pecador, poderia ser bom para o
pecador e Deus também poderia não ter problemas com isso, mas haveria um
problema com o Senhor Jesus. Ele não tem pecado. Por que Ele teve de
sofrer o julgamento? Somente o pecador pode suportar a conseqüência do
pecado; ele tem o direito de assumir a responsabilidade e sofrer o
julgamento pelo seu pecado. E há somente um que pode levar os pecados do
pecador — aquele contra quem se pecou. Somente aquele contra quem se
pecou pode assumir o pecado do pecador. Isso é justiça. Esse é o
princípio do perdão. Tanto a lei de Deus como a lei do homem reconhecem
que isso é justo. O homem tem a obrigação de sofrer a perda. Visto que o
homem tem livre arbítrio, Deus também tem livre arbítrio. Uma pessoa
com livre arbítrio tem o direito de escolher sofrer a perda.
Então, que é a redenção de Cristo? A obra redentora de Cristo é o
próprio Deus vindo para levar o pecado do homem cometido contra Si. Esta
palavra é mais amável de se ouvir do que todas as músicas do mundo. Que
é a obra redentora de Cristo? É Deus suportando o que o homem pecou
contra Si. Em outras palavras, se Jesus de Nazaré não fosse Deus, Ele
não estaria qualificado a levar nossos pecados de maneira justa. Jesus
de Nazaré era Deus. Ele é o próprio Deus contra quem pecamos. Nosso Deus
desceu à terra pessoalmente e tomou nossos pecados. Hoje, é Deus quem
leva os nossos pecados em lugar do homem. Eis por que foi uma ação
justa. Não podemos suportá-los por nós mesmos. Se fôssemos tomá-los,
estaríamos acabados. Graças a Deus que Ele mesmo veio ao mundo para
suportar os nossos pecados. Essa é a obra do Senhor Jesus na cruz.
Por que, então, Deus teve de tornar-se um homem? Já é suficiente que
Deus ame ao mundo. Por que Ele teve de dar Seu Filho unigênito? É
preciso perceber que o homem pecou contra Deus. Se Deus exigisse que o
homem suportasse seu pecado, como o homem faria isso? O salário do
pecado é a morte. Quando o pecado induz e age, ele acaba em morte. A
morte é a cobrança justa do pecado (Rm 5:12). Quando o homem peca contra
Deus, ele tem de suportar a conseqüência do pecado, que é a morte. Por
isso, Deus é a outra parte. Se Ele viesse e assumisse nossa
responsabilidade e sofresse a conseqüência do nosso pecado, Ele teria de
morrer. Mas em 1 Timóteo 6:16 é-nos dito que Deus é imortal; Ele não
pode morrer. Mesmo que Deus quisesse vir ao mundo tomar nossos pecados,
morrer e ir para a perdição, para Ele seria impossível fazê-lo. A morte
simplesmente não tem efeito em Deus. Não há a possibilidade de Deus
morrer. Portanto, para Deus sofrer o julgamento do pecado do homem
contra Si, Ele teve de tomar o corpo de um homem. Por isso Hebreus 10:5
diz-nos que quando Cristo veio ao mundo, Ele disse: “Corpo me formaste”.
Deus preparou um corpo para Cristo, com o propósito de Cristo se
oferecer como oferta queimada e oferta pelo pecado. O Senhor diz: “Não
te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado” (v. 6). Agora Ele
oferece Seu próprio corpo para tratar com o pecado do homem. Então, o
Senhor Jesus se tornou um homem e veio ao mundo para ser crucificado.
O Senhor Jesus não é uma terceira parte; Ele é a parte primeira. Por
ser Deus, Ele é qualificado para ser crucificado. Por ser homem, Ele
pode morrer na cruz em nosso lugar. Devemos fazer clara distinção entre
essas duas declarações. Ele é qualificado para ser crucificado porque é
Deus, e pode ser crucificado porque é homem. Ele é a parte oposta; Ele
se colocou ao lado do homem para sofrer punição. Deus se tornou um
homem. Ele habitou entre os homens, uniu-se ao homem, tomou o fardo do
homem e levou todos os pecados do homem. Se a redenção tem de ser justa,
Jesus de Nazaré deve ser Deus. Se Jesus de Nazaré não for Deus, a
redenção não é justa. Todas as vezes que olho para a cruz, digo a mim
mesmo: “Este é Deus”. Se Ele não for Deus, Sua morte se torna injusta e
não pode salvar-nos, pois Ele não é senão uma terceira parte. Mas
agradecemos e louvamos ao Senhor, pois Ele é a outra parte. Por isso
declarei que apenas duas partes são capazes de lidar com os pecados. Uma
parte somos nós mesmos, e nesse caso temos de morrer. A outra parte é
Deus, contra quem pecamos, e nesse caso Ele morre por nós. Além dessas
duas partes, não há uma terceira que tenha direito ou autoridade para
lidar com nossos pecados.
O Homem Jesus tem a Justiça Segundo a Lei e está Qualificado Para Redimir o Homem
Jesus de Nazaré veio ao mundo. Enquanto esteve na terra, Suas obras
demonstraram que Deus nos ama. Mas ao mesmo tempo, Ele cumpriu a lei.
Ele foi verdadeiramente submisso a Deus. Ele foi um homem santo e
submisso. Nele vemos um homem perfeito. Jesus de Nazaré é pleno de
justiça. Ele foi um homem justo. Em toda a história, houve apenas um
homem que poderia ser salvo pela lei. Esse foi Jesus de Nazaré. Ele não
precisava guardar a lei; no entanto, Ele a guardou. A Bíblia diz que
somente os que guardam a lei podem herdar a justiça que provém da lei.
Com justiça, há vida. A lei diz que quem a guardar, viverá. Guardá-la é
manter-se fiel à lei. Todo aquele que tem a justiça da lei tem vida. O
único propósito de Deus em dizer isso a todo o mundo é condenar o homem e
provar-lhe que é pecador. Deus nos deu a lei para provar a nós que
somos pecadores. Graças ao Senhor. Há somente Um aqui que tem vida pela
lei: é Jesus de Nazaré.
Por um momento coloquemos de lado o
fato de que Ele é Deus e O consideremos como um homem, um homem muito
comum. Ele guardou a lei e viveu. Ele viveu na terra por mais de trinta e
três anos. Ele não somente não pecou, como nem mesmo conheceu o pecado.
Ele foi tentado em todas as coisas, mas não foi tentado pelo pecado.
Anote isso: O Senhor Jesus não foi tentado pelo pecado. Muitos quando
lêem o livro de Hebreus adquirem um entendimento errado baseado numa
tradução errada. O texto grego mostra-nos claramente que, embora o
Senhor Jesus tenha sido tentado em todas as coisas, Ele nunca foi
tentado pelo pecado. Ele estava em carne e, portanto, tinha fraqueza.
Mas Ele não conheceu pecado. Ele nunca foi tentado pelo pecado. Se você
consultar uma tradução precisa verá isso claramente.
Os atos de
justiça do Senhor Jesus têm alguma vantagem para nós? Claro que sim. Os
atos de justiça do Senhor Jesus provam que Ele é Deus. Por causa desses
atos de justiça, o Senhor Jesus não teve de morrer por Si mesmo. Os
atos de justiça do Senhor Jesus O qualificam a morrer na cruz pelos
nossos pecados. Se o Senhor Jesus tivesse algum pecado, Sua morte teria
sido para Si mesmo; Ele não seria capaz de morrer por nós. Uma vez que o
Senhor não teve qualquer pecado, Ele foi qualificado para ser oferecido
como um sacrifício por nossos pecados. A teologia cristã diz que Deus
fez nossa a justiça do Senhor Jesus. Deus transferiu a justiça do Senhor
para nós da mesma maneira que um banco transfere o dinheiro de uma
conta para outra. O Senhor guardou a lei por nós. Nós desobedecemos a
lei. Mas a obediência do Senhor Jesus nos fez merecedores da satisfação
de Deus. Mas permitam-me perguntar-lhes enfaticamente: a Bíblia alguma
vez mencionou a “justiça do Senhor Jesus”? Quem pode achar uma passagem
no Novo Testamento que fale da “justiça do Senhor Jesus”? Se ler todo o
Novo Testamento, inclusive o texto grego, você descobrirá que o Novo
Testamento nunca menciona as palavras a justiça de Cristo. Uma passagem
parece dizer isso, mas ela não se refere à justiça própria da pessoa de
Cristo hoje. Os homens não gostam de ler a Palavra de Deus. Eles gostam
de estudar teologia. A teologia, contudo, é criada pelo homem. Ela não
vem da Palavra de Deus. A teologia diz-nos que Deus imputou a justiça de
Cristo a nós. A Bíblia nunca transmite esse conceito. Pelo contrário, a
Bíblia se opõe a esse conceito. A justiça de Jesus de Nazaré é Sua
própria justiça. Ela é realmente justiça, mas é a justiça de Jesus de
Nazaré. Esta justiça O qualifica a morrer por nós e ser nosso Salvador.
Mas Deus não tem a intenção de transferir a justiça de Jesus para nós.
João 12:24 é um versículo precioso na Bíblia. Lá diz que se um grão de
trigo não cair na terra e morrer, fica ele só. Um homem como o Senhor
Jesus foi exatamente um grão diante de Deus. Somente após Ele ter
morrido, houve os muitos grãos. A salvação começa com a cruz. Embora
devamos ter Belém antes de podermos ter o Gólgota, somos salvos por meio
do Gólgota, não por meio de Belém. O Filho de Deus é totalmente justo.
Ele foi o grão justo. Mas Sua justiça não nos pode salvar. Ela não pode
ser imputada a nós. Deus faz menção da justiça de Cristo na Bíblia. Mas
Ele nunca diz que a justiça de Cristo deve ser nossa. A Bíblia diz que
Cristo é nossa justiça. Ela nunca diz que a justiça de Cristo é nossa
justiça. Gostaria de salientar isso, pois isso exaltará a cruz do Senhor
Jesus Cristo. A Bíblia diz que Cristo é a nossa justiça. O próprio
Cristo é a nossa justiça. Nós nos achegamos a Deus em Cristo. Cristo é
nossa justiça.
Certa vez, perguntei a uma irmã ocidental o que
ela veste quando chega diante de Deus. Ela disse que veste a justiça de
Cristo para ir até Deus. Ela tomou a justiça de Cristo como sua veste
para ir até Deus. Eu lhe perguntei onde ela encontrou isso na Bíblia.
Não é a justiça de Cristo que se tornou nossa justiça. Cristo nunca
transferiu Sua justiça a nós. Antes, é o próprio Cristo quem se tornou
nossa justiça. Fomos salvos pela justiça de Deus e não pela justiça de
Cristo.
Vimos o que é a justiça de Deus. É a justiça de Deus
que nos traz o perdão e nos livra do julgamento. Não é a justiça de
Cristo que faz isso. A justiça de Cristo é somente a qualificação para
que Ele seja nosso Salvador. Cristo nunca transferiu-nos Sua justiça. Se
a justiça do Senhor Jesus fosse transferível a nós, Ele poderia tê-lo
feito enquanto vivia na terra. Ele não teria de ir à cruz e nós, assim,
poderíamos ter sido salvos. Se o caso fosse esse, Sua vida se tornaria
nossa vida resgatadora. Mas não há tal doutrina como vida resgatadora.
Há somente a doutrina da morte resgatadora. Somente a morte do Senhor
Jesus nos salvará. Sua vida é nosso exemplo. Não podemos ser salvos por
Sua vida. Sua justiça nos condena. Quanto mais justo Ele é, mais
embaraçados ficamos. Não há maneira alguma de Sua justiça ser imputada a
nós. Se Deus nos colocasse lado a lado com a justiça do Senhor, somente
poderíamos ir para o inferno. Mas graças a Deus porque Ele morreu e se
tornou nossa justiça. Eis por que somos salvos. A salvação vem da cruz.
Ela não veio da manjedoura. A salvação vem do Gólgota; ela não vem de
Belém. Se a justiça do Senhor Jesus pudesse salvar-nos, Ele não
precisaria ter morrido. Por isso, quando lemos a Bíblia, não devemos ser
afetados pela teologia. Ficaremos muito mais esclarecidos se formos
ensinados pela Bíblia do que pela teologia. A palavra do homem pode
ajudar, mas ela também pode danificar. Devemos colocar de lado a palavra
do homem.
Vamos prosseguir passo a passo. Primeiro vimos que
deve ser Deus quem toma nossos pecados. Então, vimos que Jesus de Nazaré
veio para levar nossos pecados. Mas Sua justiça na terra foi mais que
uma condenação para nós. Quando fomos salvos por meio do Senhor Jesus?
Consideremos um tipo na Bíblia. No tabernáculo, entre o Lugar Santo e o
Santo dos Santos, havia um véu. Deus estava além do véu no Santo dos
Santos. Fora do véu estava o mundo. A Bíblia nos diz que esse véu
significa a carne do Senhor Jesus (Hb 10:20). Em outras palavras, o
Santo dos Santos somente pode ser visto pelo Senhor Jesus como um homem
na terra e pelos que têm uma vida igual à do Senhor Jesus. Nem todos
podem ver Deus. Somente o Senhor Jesus podia ver Deus. Ninguém, em todo o
mundo, pode ver o Santo dos Santos. Ele estava velado. Quando pôde o
homem ver o Santo dos Santos? Quando Deus removeu o véu do céu e uniu o
Santo dos Santos, o Lugar Santo e o átrio exterior a fim de que o homem
fosse capaz de vê-Lo. Isso aconteceu quando o Filho de Deus foi
crucificado na cruz. Naquela hora, o caminho para o Santo dos Santos foi
aberto. Por isso Hebreus 10:19-20 diz que temos intrepidez para entrar
no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus pelo véu. Este véu rasgado é a
carne do Senhor Jesus. Agora, temos intrepidez e a plena certeza de fé
para nos achegar a Deus. A justiça do Senhor Jesus na terra não tem
relação direta conosco. Graças ao Senhor, pois Ele não ficou na terra
para sempre. Se tivesse permanecido na terra para sempre, Ele ainda
seria um grão. Graças a Deus porque Ele morreu e nos produziu, os muitos
grãos. Graças ao Senhor pela cruz.
Os Dois Aspectos da Cruz do Senhor
Aqui há uma questão: O Senhor morreu na cruz, mas qual o significado de
Sua morte? Quem O enviou à cruz? Todos os que lêem os Evangelhos sabem
que foram os judeus que O entregaram aos gentios e foram os gentios que O
crucificaram na cruz. Se me lembro corretamente, Pilatos era um
espanhol. Como podemos dizer que o Senhor Jesus morreu para levar nossos
pecados? Ele foi claramente crucificado pelo homem. Em Atos 2:23, Pedro
disse aos judeus que eles pregaram Jesus na cruz por mãos de iníquos.
Aqui é dito que foram os judeus que pregaram o Senhor Jesus na cruz. Mas
que fez o Senhor Jesus na cruz? Antes de ir à cruz, Ele esteve orando
no jardim do Getsêmani. Sua oração, junto com suor com gotas como de
sangue, foi causada pela perseguição e oposição do homem? Foi porque
Judas trouxe homens para prendê-Lo? Ou foi porque Ele tinha de ir à cruz
para nos redimir do pecado? Não foi porque Deus fez com que Aquele que
não tinha pecado se tornasse pecado por nós e carregasse os pecados de
todo o mundo sobre Si, para que Ele pudesse levar nossos pecados sobre o
madeiro? Ali, Ele orou: “Pai, se queres, afasta de Mim este cálice” (Lc
22:42).
Se a cruz fosse algo da mão do homem, se ela fosse
apenas o instrumento para alguns homens maus matarem-No, e se houvesse
apenas o aspecto humano do Senhor Jesus, então eu não gostaria de ouvir
essa oração do Senhor. Não gostaria de ouvir Jesus de Nazaré ajoelhado
ali orando ao Pai para, se possível, afastar Dele o cálice. No decorrer
de dois mil anos, muitos mártires e discípulos do Senhor tiveram um
grito mais forte que Ele ao se defrontarem com a morte. Muitos mártires,
quando trancados em celas e masmorras, oraram para que o Pai os
glorificasse, que queriam morrer pelo Filho e testificar a Palavra do
Senhor com o sangue deles. Se não tivesse sido Deus quem começou a pôr o
encargo pelos pecados sobre o Senhor no Getsêmani, e se não tivesse
sido Deus quem tivesse colocado sobre o Senhor Jesus o encargo de tomar
os nossos pecados, teríamos de dizer que o Senhor Jesus nem mesmo teve
tanta coragem como aqueles que creram Nele. Assim, o problema é que a
cruz tem o aspecto humano e o aspecto de Deus. O homem crucificou o
Senhor Jesus na cruz. Mas o Senhor disse que nenhum homem tira Sua vida;
Ele espontaneamente a entregou (Jo 10:17-18). O homem podia crucificar o
Senhor mil vezes ou dez mil vezes, mas a não ser que Ele desse Sua
vida, nada poderia ter sido feito a Ele. O homem crê que Ele foi
crucificado pelo homem. Nós cremos que Ele foi crucificado por Deus para
redimir os pecados em nosso favor.
Temos de descobrir na
Bíblia o que Deus fez na cruz. Primeiro, leiamos Isaías 53:5-10: “Mas
ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas
iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas;
cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a
iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a
boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante
os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi
arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado
da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele
ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico
esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se
achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o
enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua
posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará
nas suas mãos”. Os apóstolos citam Isaías 53 muitas vezes no Novo
Testamento. A pessoa falada nessa passagem das Escrituras é o Senhor
Jesus. Que disse o profeta quando escreveu essa porção da Escritura? A
última frase no versículo 4 diz: “Nós o reputávamos por aflito, ferido
de Deus e oprimido”. No começo, o profeta achava que Ele fora ferido e
afligido por Deus, que fora punido por Seus próprios pecados e ferido
por Deus por Suas transgressões. Mas no versículo 5 há uma volta. Deus
lhe deu uma revelação através da palavra mas. Achávamos que Ele
estivesse meramente sofrendo punição e ferimento. Mas Ele não estava
sofrendo punição e ferimento: “Mas ele foi traspassado pelas nossas
transgressões e moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a
paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós
andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho”
(vs. 5-6). A frase seguinte é muito preciosa: “Mas o Senhor fez cair
sobre ele a iniqüidade de nós todos” (v. 6). Isso é o que o Senhor fez.
Vemos que em relação à cruz há o aspecto do homem e o aspecto de Deus.
Embora tenham sido as mãos humanas que pregaram o Senhor Jesus,
manifestando o ódio do homem por Deus, foi também Deus quem colocou
todos os nossos pecados sobre Ele e O crucificou. A cruz foi obra de
Deus; foi algo que Jeová cumpriu.
Que aconteceu na cruz? “Ele
foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado
ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não
abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem quem
dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da
transgressão do meu povo, foi ele ferido” (vs. 7-8). Ser cortado da
terra dos viventes é morrer. Os que estavam ao pé da cruz quando o
Senhor foi crucificado admiravam-se e queriam saber por que esse homem
estava sendo crucificado. Eles não sabiam a razão de aquilo estar
acontecendo. O profeta disse que “ele não abriu a boca”, e que “como
cordeiro foi levado ao matadouro; e como ovelha muda perante os seus
tosquiadores”. Quem sabia que Ele estava sendo cortado da terra dos
viventes pelo pecado do povo? Quem sabia que era Deus operando Nele para
cumprir a obra de redenção? A cruz foi a maneira pela qual o Senhor
cumpriu a redenção por meio de Sua morte. O versículo 9 diz:
“Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na
sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua
boca”. O versículo 10 é muito precioso: “Todavia, ao Senhor agradou
moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo
pecado”. A cruz é uma obra de Deus. Foi o próprio Deus quem levou nossos
pecados na cruz. Foi Ele quem solucionou nosso problema de pecado.
Nunca dê qualquer crédito a Judas por entregar o Senhor Jesus aos
judeus. Nunca pense que sem Judas o Senhor não poderia ser o Salvador.
Mesmo se mil ou dez mil Judas tivessem existido, ainda seriam inúteis.
Foi o próprio Senhor Jesus quem suportou nossos pecados.
Quando
o Senhor Jesus estava orando no jardim do Getsêmani, Ele pode ter
parecido o mais fraco de todos os homens, sem qualquer coragem. Ele orou
ao Pai para que passasse Dele o cálice (Lc 22:42). Mas quando saiu do
jardim e encontrou muitos homens maus, Ele disse: “Sou eu”, e eles
“recuaram e caíram por terra” (Jo 18:6). Por favor, lembrem-se de que
Ele não caiu quando se confrontou com os homens maus. Pelo contrário,
Ele os fez cair. Mas enquanto Ele estava no Getsêmani, considerando o
sofrimento que envolvia tomar os pecados do homem, como é que Aquele que
não tem pecado seria feito pecado e como Ele iria tomar sobre Si o
julgamento do pecado, Ele orou para que, se possível, o cálice fosse
passado de Si. Não fosse pela questão da redenção, o Senhor Jesus nem
mesmo seria comparado a um mártir. Quão fortes foram os muitos mártires
cristãos quando marchavam para a arena dos leões. Mas o Senhor Jesus
rogou que o cálice fosse, se possível, removido Dele. Fisicamente
falando, o Senhor Jesus foi imensamente diferente de todos os mártires.
Mas para a redenção, para solucionar o problema do pecado, para Deus vir
ao homem e levar o pecado do homem, até mesmo Ele teve de pedir que, se
possível, o cálice fosse removido. A Bíblia diz que Jeová foi quem fez
Dele uma oferta pelo pecado. Foi Jeová quem pôs sobre Ele a iniqüidade
de todos nós. Isso foi algo que Jeová fez. A cruz foi obra de Deus; não
foi obra do homem. A cruz é o próprio Deus vindo à terra para levar os
pecados do homem. A cruz não é o homem crucificando o Filho de Deus.
Você se lembra do que a Bíblia diz que aconteceu entre a hora sexta e a
nona? O sol escureceu (Lc 23:44-45). Os judeus escarneceram Dele, e os
gentios conseguiram açoitá-Lo e humilhá-Lo. Mas o sol estava além do
controle dos judeus, e os gentios não tinham autoridade para manipular o
sol. O homem protestou e tocou trombeta; mas o terremoto não foi algo
que Pilatos conseguisse ordenar. Por que o céu escureceu? Esse fenômeno
aconteceu porque o próprio Deus veio tomar nossos pecados. Isso não foi
algo feito pelo homem. Se tivesse sido algo feito pelo homem, teria Deus
aumentado a dor de Seu Filho quando Ele estava pregado na cruz? Deus
não teria enviado doze legiões de anjos para vir e salvá-Lo? Tal fato
sem dúvida aconteceria se não fosse pela redenção dos pecados.
Agradecemos e louvamos a Deus porque foi Seu Filho quem veio para nos
redimir dos pecados. Eis por que Ele disse: “Deus Meu, Deus Meu, por que
Me desamparaste?” (Mt 27:46). Nenhum cristão por todos estes dois mil
anos disse essas terríveis palavras quando estava para morrer. Por dois
mil anos, quer os cristãos tenham morrido em paz quer em aflição, eles
foram mais ousados que Ele. Por que o Filho de Deus foi ali rejeitado
por Deus? Se tivesse sido meramente a mão do homem e a crucificação pelo
homem, essa teria sido a ocasião em que Ele mais precisaria da presença
de Deus. Quando o homem conspirou para persegui-Lo e matá-Lo, Deus
deveria ter manifestado mais Sua presença. Esse foi o momento mais
crucial e Deus tinha de estar com Ele. Por que Deus O abandonou, então?
Foi unicamente porque o Filho de Deus tinha se tornado pecado e tinha
suportado o julgamento. Essa é a razão de Ele ter clamado: “Deus Meu,
Deus Meu, por que Me desamparaste?” Deus O desamparara. Nós, que cremos
na obra da redenção, sabemos que o trabalhar da cruz foi para que Ele
fosse julgado pelo pecado. A cruz do Senhor mostra-nos como o pecado é
maligno e quão grande preço Deus pagou pela obra de redenção.
Além de Isaías 53, podemos encontrar outro testemunho claro da
Escritura. Romanos 3:25 diz que Deus propôs Cristo como propiciação.
Isso também mostra claramente que a obra foi feita por Deus.
Deuteronômio 21:23 diz-nos que o que é levantado no madeiro é maldito de
Deus. Quando o Senhor foi pregado na cruz, Ele não foi maldito do
homem. Antes, Ele foi maldito de Deus. Eis por que Ele pode livrar-nos
da maldição. Em 1 João 4:10 é dito que Deus nos amou e enviou Seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados. Foi Deus quem enviou Seu Filho
como propiciação. Não foi o homem quem O crucificou. Em 2 Coríntios 5:21
também é dito: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por
nós”. Isso foi algo que Deus fez. A cruz é o trabalhar de Deus. Foi Deus
quem enviou o Senhor Jesus para passar pela cruz. Atos 2:23 menciona
tanto o aspecto de Deus como o aspecto do homem. “Este [homem] entregue
pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes,
crucificando-o por mãos de iníquos”. O Senhor Jesus foi morto pelos
judeus por mãos de iníquos. No entanto, tal morte foi de acordo com o
desígnio de Deus. Isso mostra-nos que tudo foi feito por Deus. Nós temos
pecado e o pecado somente pode ser tratado por Deus. Por essa razão,
Deus veio ao mundo para ser um homem. Enquanto homem, Ele foi
verdadeiramente justo. Mas essa justiça não foi imputada a nós. Foi a
morte do Senhor Jesus que nos livrou da maldição da lei (Gl 3:13). Ele
não nos livrou do pecado enquanto estava vivo, mas quando morreu. Na
cruz, foi Deus quem O crucificou, não o homem. A mão do homem é inútil.
Foi Deus quem aproveitou a oportunidade ali para manifestar o pecado do
homem.
Redenção e Substituição
Agora temos de fazer
uma pergunta. Uma vez que o Senhor Jesus morreu na cruz e uma vez que
Deus O fez propiciação, como, então, podemos ser salvos? Qual a
diferença entre redenção e substituição? São fatores semelhantes? Temos
de reconhecer que a obra do Senhor Jesus é uma obra de redenção. Mas o
resultado dessa obra redentora é a substituição. A redenção é a causa e a
substituição é o resultado. A extensão da redenção é muito grande. Mas a
extensão da substituição não é tão grande assim. É muito interessante
que a Bíblia nunca diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todos.
Ela somente diz que o Senhor Jesus morreu por todos (2 Co 5:14). Sua
obra redentora foi para satisfazer as justas exigências de Deus. Quando o
Senhor cumpriu a redenção na cruz, essa obra de redenção não tinha
absolutamente nada a ver com o homem. Quero impressioná-los fortemente
com esta palavra: a redenção não está absolutamente relacionada
conosoco. A obra de redenção é entre Deus e o pecado. Que é a obra de
redenção? É o próprio Deus vindo ao mundo para resolver o problema do
pecado. Uma vez que o problema do pecado foi resolvido, a obra da
redenção foi cumprida.
O sangue do cordeiro pascal era
aspergido nas ombreiras e nas vergas das portas (Êx 12:7). Deus disse
que quando visse o sangue, Ele passaria pela casa (v. 13). O sangue foi
para Deus ver. Não foi para os primogênitos verem. Os primogênitos não
necessitavam ver o sangue; eles ficavam dentro das casas. O sangue foi
para cumprir as justas exigências de Deus; não foi para cumprir as
exigências dos primogênitos. Para os primogênitos não houve algo como a
redenção. Se lermos o Antigo Testamento, descobriremos que o sangue para
a expiação (isto é, redenção) do pecado deveria ser levado para dentro
do Santo dos Santos. Era para ser aspergido sobre o véu sete vezes (Lv
16:14-15). No dia da Expiação, o sumo sacerdote tinha de trazer o sangue
e aspergi-lo sobre o propiciatório da arca. O sangue era para ser
oferecido a Deus. É verdade que o sangue tinha de ser colocado sobre o
polegar, a orelha e o dedo do pé de um leproso. Mas isso era feito com
respeito à consagração. Era uma questão de consagração a Deus. O homem
não tinha tal exigência. A redenção tem a ver com Deus. É Deus vindo
para solucionar o que o homem não pode solucionar por si mesmo. Eis por
que a Bíblia diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não
somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo
2:2). A redenção inclui todo o mundo. Em tal redenção, todos, até os que
não foram salvos, estão incluídos.
Deus veio e lidou com
nossos pecados. O Senhor Jesus satisfez as justas exigências de Deus
para que nós pudéssemos receber a substituição do Senhor Jesus. Sua
redenção é uma preparação abstrata. Pelo crer Nele, essa redenção se
torna uma substituição para nós. Diante de Deus, não foi uma
substituição, mas uma redenção. É importante saber isso. Se não tivermos
clareza desse assunto, ficaremos confusos a respeito de muitas outras
doutrinas. A redenção é para Deus e a substituição é para nós. A
redenção é para satisfazer as exigências de Deus e a substituição é para
recebermos o benefício. O que Ele cumpriu foi redenção; o que nós
recebemos é substituição. Eu não quero dizer que não haja tal
ensinamento como substituição na Bíblia. Sem dúvida, há tal ensinamento.
Mas todos os ensinamentos na Bíblia concernentes à substituição são
escritos para os cristãos. Eles não são escritos para incrédulos. Para
os gentios, dizemos que Jesus morreu por eles e cumpriu a redenção. Para
os cristãos, dizemos que o Senhor Jesus os substituiu tomando seus
pecados.
Na passagem em que lemos de Isaías 53, notamos que ela
diz: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas
nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados” (v. 5). Por favor, observem que
lemos nossas em vez de vossas. Ele levou o sofrimento pelos nossos
pecados. Assim, nossos pecados são perdoados. É por nós, e não por todo o
mundo. Quando Pedro citou Isaías 53, ele disse: “Carregando ele mesmo
em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe 2:24). É sempre
nossos e não vossos. Por isso, temos de ser cuidadosos quando pregamos o
evangelho. É melhor que sejamos mais fiéis à Bíblia. A Bíblia nunca diz
aos pecadores que Jesus morreu pelos pecados deles. A Bíblia diz que
Jesus morreu por eles (Rm 5:8). Existe tal fato: Jesus morreu por eles.
Mas não há nada sobre Jesus ter morrido pelos pecados deles. Jesus
morrer por eles é um fato. Mas o problema do pecado ainda não ficou
resolvido. É verdade que todos os problemas do pecado já estão
resolvidos diante de Deus. Mas se alguém não tiver participação nessa
obra, seus pecados ainda não estão solucionados e esse não tem parte na
substituição de Jesus. Quando alguém recebe o Senhor Jesus, seu problema
de pecado é resolvido. Isso é substituição. Sem isso, não há
substituição. Em outras palavras, a redenção foi realizada, mas a
salvação ainda não. Se eu lhes perguntasse quando vocês foram redimidos,
vocês responderiam que isso aconteceu há dois mil anos; mas se eu lhes
perguntasse quando vocês foram salvos, vocês diriam que foi em
determinado dia, mês e ano. A redenção foi algo que aconteceu há muito
tempo. A salvação é algo presente. A redenção foi cumprida por Cristo. A
salvação é realizada em nós. Fomos redimidos há dois mil anos, mas
podemos ter sido salvos há poucos anos. Não sei como dizer isso mais
claramente, contudo para mim está muito claro. A obra de redenção de
Deus é uma questão referente a Ele mesmo; é para satisfazê-Lo e nada tem
a ver conosco. É algo absolutamente relacionado com Deus. O próprio
Deus foi O que fez a obra. Quando vemos o que Deus cumpriu, e cremos e
aceitamos, recebemos essa substituição.
Usemos outra
ilustração. Há uma passagem que une as margens leste e oeste do rio
Whampoa. É uma passagem gratuita. O lugar é conhecido como Passagem
Gratuita. Suponha que eu fosse um ladrão que tivesse roubado e assaltado
muitas vezes ali. Contudo, agora eu sou diferente. Que deveria eu fazer
se quisesse fazer um tratamento completo em relação ao meu passado de
roubos e assaltos? Mesmo se eu quisesse reembolsar, aonde eu deveria ir?
É difícil encontrar aqueles a quem assaltei. Que devo fazer? Por causa
da justiça e para reembolsar, posso começar um serviço gratuito para
transportar as pessoas pelo rio. Qualquer pessoa pode fazer a travessia e
nada lhe será cobrado. Posso fazer isso para devolver o dinheiro que
roubei das pessoas nesse lugar. Ofereço esse tipo de serviço grátis como
uma solução para o problema de minha injustiça. Esse serviço gratuito é
para mim uma solução para a injustiça. Mas para os outros é uma
substituição; estou pagando a passagem no lugar dos outros. Esse é o
modo de o Senhor Jesus lidar com o problema da punição. Deus enviou o
Senhor Jesus para cumprir a redenção a fim de que Sua própria santidade e
justiça bem como o problema do pecado fossem cuidados. Quando alguém
crê, ele entra nessa obra, e o Senhor Jesus leva embora seus pecados.
Então, o Novo Testamento diz: “Cristo morreu, uma única vez, pelos
pecados, o justo pelos injustos” (1 Pe 3:18). Ele mesmo carregou em Seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados (1 Pe 2:24). Tudo isso foi
feito por nós. Na noite em que o Senhor Jesus foi traído, Ele tomou o
cálice e deu graças, e o deu aos discípulos, dizendo: “Porque isto é o
Meu sangue da aliança, que é derramado por muitos, para perdão de
pecados” (Mt 26:28). Foi por muitos, não por todos. No futuro, veremos
incontáveis pessoas, com palmas nas mãos, lavados pelo sangue (Ap 7:9,
14). Graças ao Senhor. Ele cumpriu a redenção por Sua própria causa,
para que nós pudéssemos ser substituídos. Nada podemos dizer a não ser
agradecer-Lhe e louvá-Lo.
Postado por: Miss. Fátima Miranda
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